quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Romanos 9

B. W. Johnson

A Rejeição dos Judeus.

SUMÁRIO.—A profunda compaixão de Paulo por sua nação. A promessa de Deus à raça judaica não falhou. O argumento de que isto não aconteceu. A promessa não é para a descendência segundo a carne, mas para uma descendência espiritual. Deus tem direito de escolher que raça quiser. Como o oleiro tem direito de formar seu barro, da mesma forma Deus pode exaltar ou rejeitar uma raça. A aceitação dos gentios e a rejeição dos judeus predita. Um remanescente de Israel salvo.

Para entender o raciocínio deste capítulo, o leitor deve manter em mente o objetivo do apóstolo. Ele tinha no começo desta carta (Rm 1.16, 17) mostrado que o evangelho era o poder de Deus para salvação... “primeiro do judeu, e também do grego.” Mas os judeus como nação rejeitaram Cristo, e Deus rejeitou-os. Eles em breve deviam ser destruídos como povo e sua terra tomada. Mas os judeus recorriam às promessas feitas a Abraão. Deus quebrou suas promessas? Se Cristo era o verdadeiro Messias, e a nação judaica foi rejeitada, eles acreditavam que a promessa foi anulada. Para responder essa objeção Paulo mostra (1) que a promessa não era para a descendência de Abraão segundo a carne, mas para a descendência segundo a promessa; e (2) que Deus, em sua soberania, tem direito de escolher ou preterir uma raça segundo sua vontade. O tema da eleição individual e pessoal não está na mente do apóstolo, mas da eleição dos judeus para ser o povo escolhido, sua posterior rejeição, e a escolha dos gentios. Isaque, Esaú e Jacó são os representantes das raças.

1-5. Em Cristo digo a verdade. Esta afirmação é feita de forma solene porque os judeus acusavam Paulo de ter renunciado a sua raça. Ele fala como na presença de Cristo, com a consciência iluminada pelo Espírito Santo. 2. Que tenho grande tristeza, etc. Não tanto pelo motivo de seus compatriotas estarem afastados dele, como deles estarem sem a benção de Cristo. 3. Porque eu mesmo poderia desejar ser anátema de Cristo. Ele poderia desejar isto, se servisse para salvar seus irmãos judeus. Anátema. “Anátema,” na Edição Revista. Rejeitado de Cristo e perdido. Meus irmãos. Seus irmãos judeus, da mesma linhagem judaica que ele próprio. 4. Que são israelitas. Ele agora enumera algumas das glórias da raça judaica. Jacó, seu predecessor, foi chamado Israel (Gn 32.28) pelo anjo. Isto significa um Príncipe com Deus, e este imponente título foi mantido por seus descendentes. Dos quais é a adoção. Seis altos privilégios do povo escolhido são mencionados nos versos 4 e 5. Eles foram adotados como o povo escolhido (Dt 7.6). E a glória. A presença da arca de Deus e a glória da presença divina (1Sm 4.21). E as alianças. As alianças feitas com Abraão e no Sinai. E a lei. A lei de Moisés dada aos filhos de Israel. E o culto. A adoração no tabernáculo e no templo. E as promessas. Especialmente a bendita promessa de Cristo. 5. Dos quais são os pais. Os patriarcas e profetas. E dos quais é Cristo. Acima de tudo, Cristo, em sua natureza carnal, foi de sua raça, da tribo da Judá, e da descendência de Davi. O qual é sobre todos. Veja Mt 28.18. Ele é nosso Rei e Juiz. Deus bendito eternamente. Mais do que homem; divino.

6-9. Não que a palavra de Deus haja faltado. Os judeus poderiam retorquir, “Por que, então, se Israel tinha tais privilégios, alianças e promessas, a nação foi rejeitada? Deus, se Jesus é realmente o Cristo, faltou com sua palavra?” O apóstolo no restante do capítulo responde esta objeção. O primeiro ponto é que há uma Israel mais amplo, maior, do que o Israel segundo a carne. Nem todos os que são de Israel são israelitas. Há um Israel segundo a promessa assim como um Israel segundo a carne. 7. Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos.Abraão tinha outros filhos além de Isaque, a saber Ismael, mas nenhum destes pertencia ao povo escolhido, pois foi dito (Gn 21.12), Em Isaque será chamada a tua descendência. 8. Isto é, não são os filhos da carne, etc. Visto que Ismael, nascido de acordo com as leis naturais, não foi da raça escolhida, mas Isaque, o filho da promessa, nascido contrário à lei natural, se tornou o povo escolhido, segue que os filhos de Deus não são os filhos da carne, os descendentes meramente carnais de Abraão, mas os filhos da promessa; aqueles que são da descendência de acordo com as condições da promessa. Este argumento é uma resposta àqueles que baseavam tudo em sua relação carnal com Abraão: “Temos por pai a Abraão” (Mt 3.9). A fim de mostrar isto mais integralmente Paulo recorda os incidentes registrados em Gn 18.10-14. 9. A palavra da promessa é esta. Esta promessa foi feita quando Sara estava muito além da idade natural de dar à luz filhos, e quando Abraão era velho. Por esta razão a descendência escolhida é chamada de os filhos da promessa.

10-13. E não somente esta. O primeiro argumento é que os verdadeiros descendentes são os filhos da promessa, uma descendência espiritual antes que da carne. O segundo argumento, agora iniciado, é que Deus tem o direito de rejeitar qualquer nação que quiser, incluindo os judeus, e escolher outras raças se desejar. Isto é evidenciado pelos fatos da história. Ele exerceu o direito de escolha quando escolheu Jacó como a nação escolhida, ao invés de Esaú. Os fatos são narrados para revelar isto. 11. Porque eles. Os filhos, ainda não nascidos, eram ambos descendentes de Isaque segundo a carne; conseqüentemente, segundo a carne, da descendência prometida, e ambos igualmente sem obras, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme). Isso poderia salientar que ele fez a escolha de sua própria vontade, livremente. De sua própria vontade ele escolheu Jacó, ainda não nascido, para tornar-se o cabeça da raça escolhida, antes que Esaú. Note que esta eleição não era para salvação eterna, mas para tornar o cabeça de um povo. Como Moisés, Samuel, e João Batista foram levantados para executar uma grande obra de Deus, assim aconteceu com Jacó. 12. Foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor. Veja Gn 25.23. Foi dito a Rebeca, “Duas nações há no teu ventre... um povo será mais forte do que o outro povo, e o maior (povo) servirá ao menor.” Esaú nunca serviu a Jacó, mas os edomitas, os descendentes de Esaú, serviram aos israelitas. A eleição aqui é de uma raça. 13. Como está escrito. Em Ml 1.2, 3. A linguagem de Malaquias, em sua ligação, mostra que foi falado das duas raças. O verso 3 diz, “Odiei a Esaú; e fiz dos seus montes uma desolação e dei a sua herança.” Isto não foi verdadeiro de Esaú como pessoa, mas foi verdadeiro de seus descendentes. Uma raça foi amada e a outra odiada. Deus então afirmou seu direito de livremente escolher ou rejeitar raças. Não há a menor insinuação de eleger algumas pessoas para a salvação eterna e outras para a condenação.

14-18. Há injustiça da parte de Deus? Esta liberdade de Deus, em sua eleição de raças, não faz violência à sua justiça? Não é injusto que Deus escolha uma nação e rejeite outra? A resposta a esta questão é agora dada. Paulo mostra que as Escrituras reconhecem esta liberdade, e estas Escrituras, reverenciadas pelo objetor judeu a quem ele está escrevendo, não atribuiria injustiça a Deus. O argumento é totalmente escriturístico. 15. Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Isto está em Êx 33.19, e é em resposta a um pedido de Moisés de um alto privilégio. O Senhor o concede, não porque ele o merece, mas de graça, porque ele “terá misericórdia de quem ele tiver misericórdia, e se compadecerá de quem ele se compadecer.” A passagem, conforme empregada por Paulo, afirma que Deus favorece nações de acordo com sua vontade. Ele exerce escolha livre. 16. Assim, pois, isto não depende do que quer.Quando Deus é gracioso, não é porque uma vontade humana (do que quer), ou uma obra humana (do que corre) coloca-o sob a obrigação, e força-o a dar, mas o dom é dele, devido à sua misericórdia, que ele tem o direito de conceder onde quiser. Isaque quis conferir a benção sobre Esaú, e o último correu para obter a caça (Gn 27.5), mas Jacó tinha sido escolhido para tornar-se o fundador do povo escolhido, e recebido a benção, que prometia que ele devia ser o pai de uma grande nação. 17. Diz a Escritura a Faraó. Êx 9.16. Não é dito que Faraó foi nascido mas elevado ao trono para um propósito particular. Esse propósito era para em ti mostrar o meu poder. Não é dito que Deus levantou-o para destrui-lo. Seu poder poderia ter sido mostrado por Faraó rendendo-se ao seu poder. A conduta de Faraó tornou necessário humilhá-lo. Aqui, novamente, a eleição não é de um indivíduo para destruição, mas de um homem para ser um rei para um propósito particular. A destruição veio sobre ele porque, nessa posição, ele resistiu a Deus. 18. Logo, pois, compadece-se. O verso 15 tem revelado que ele tem misericórdia de acordo com seu próprio senso de direito, não de acordo com qualquer código humano. O caso de Faraó, mostra, além disso, que ele endurece a quem quer. “O que não deve ser esquecido, e o que aparece claramente, de toda a narrativa em Êxodo, é que o endurecimento de Faraó, foi inicialmente um ato seu. Cinco vezes é dito dele que ele mesmo endureceu, ou tornou pesado seu coração (Êx 7.13; 7.22; 8.15; 8.32; 9.7), antes da vez quando é finalmente dito que Deus o endureceu (Êx 9.12), e mesmo depois disso é dito que ele endureceu a si mesmo (Êx 9.34). Assim ele inicialmente fechou seu próprio coração aos apelos de Deus; ficou mais firme pela resistência obstinada sob os julgamentos de Deus, até que finalmente Deus, como punição por sua rejeição obstinada do direito, entregou-o à sua louca insensatez e afastou seu julgamento.” -- Godet. A princípio Faraó endureceu seu próprio coração; os julgamentos de Deus somente fizeram-no mais firmes, e então Deus “entregou-o.” Deus somente fez mais firme, por seus julgamentos e por deixá-lo à sua insensatez, alguém que já tinha endurecido seu próprio coração. Que ele foi entregue à loucura é evidenciado no relato. Até seu mago disse, “Isto é o dedo de Deus” (Êx 8.19). Ele mesmo uma vez disse, “Esta vez pequei; o Senhor é justo” (Êx 9.27). Não tivesse ele endurecido a si mesmo novamente, o resultado teria sido diferente. Então Deus o abandonou à sua própria insensatez, “à dureza de coração e reprovação da mente.” Os judeus aceitavam tudo isto no caso de Faraó, mas defendiam que Deus não poderia abandoná-los por causa de seu comportamento pecaminoso. O argumento de Paulo é, que se eles, o povo favorecido, seguisse o comportamento de Faraó, eles poderiam experimentar o destino dele. Eles, também, endurecendo a si mesmos, poderiam ser “entregues à dureza,” pois Deus não está limitado pela raça, ou por qualquer limitação, mas endurece a quem quer. Ele quer endurecer aqueles que endurecem a si mesmos. Tenho me demorado nesta passagem mais do que o habitual porque ela é tão pouco entendida. Godet bem diz que em toda esta passagem Paulo não está escrevendo teologia, mas respondendo as pretensões arrogantes do farisaísmo judaico, e por isso ele afirma a liberdade divina. Se ele estivesse respondendo àqueles que abusavam desta liberdade transformando-a em uma vontade puramente arbitrária e tirânica, ele teria exibido o lado oposto da verdade.

19-24. Quem tem resistido à sua vontade? Ele agora se depara com uma outra objeção do adversário judeu. Se a vontade de Deus é suprema, porque ele devia se queixar, visto que nenhuma nação pode resistir à sua vontade. Se Deus endurece, a nação que é endurecida somente se submete a ele. Paulo não pára para mostrar que esta objeção é artificial, e ilógica, mas em resumo ele diz: “Isto suposto, então que direito tem a nação judaica de objetar? Ela não é nada senão uma massa de barro nas mãos do oleiro.” 20. Quem és tu, que a Deus replicas? Os homens acusarão Deus de injustiça? Não temos o direito de contender com nosso Criador. Ele tem o direito de declarar suas próprias condições nas quais ele terá misericórdia. 21. Não tem o oleiro poder sobre o barro. Da mesma forma Deus, em tratando-se de direito, tem o direito de fazer de suas criaturas o que quiser. Não é dito que somos como barro nas mãos do oleiro, mas que Deus tem o direito sobre nós que o oleiro tem sobre seu barro. Uma massa o oleiro pode usar para um uso glorioso; uma outra para um vaso para usos ordinários. 22. Que direis se Deus. Agora se Deus, no exercício de seu direito indubitável, tem feito algo parecido, em seu tratamento com o judeu e o gentio. Querendo mostrar a sua ira. Embora provocado para punir a nação judaica por seu pecado de rejeitar Cristo, e dessa forma demonstrar seu poder, todavia até então ele tem suportado com muita paciência os vasos da ira. Quer dizer, a nação judaica incrédula, tão pecaminosa diante de Deus, todavia há tempos suportada. Deus, no exercício de sua vontade soberana, tem até então adiado a exibição de sua ira na destruição da nação. Este verso começou com uma pergunta. Ela significa, se Deus faz tudo isto, onde está a culpa? 23. Para que também desse a conhecer. “Os vasos de misericórdia” são crentes gentios e judeus. Que dizer se Deus suportou os vasos preparados para a destruição (verso 22), havia algo de errado nisto? Que dizer se ele dessa forma tornou conhecidas as riquezas de sua glória sobre os vasos de misericórdia, havia algo de errado nisto? Que para glória já dantes preparou. A preparação referida não é de indivíduos para a vida eterna, mas a preparação feita era para salvar os gentios assim como os judeus. O próximo verso mostra o que se quer dizer. 24. Os quais somos nós, a quem também chamou. Ele “suportou os vasos da ira” para que ele pudesse tornar conhecida sua misericórdia em chamar tanto judeus como gentios. A destruição da nação judaica, predita pelo Salvador em Mt 24, foi adiada por misericórdia até que dezenas de milhares de judeus, assim como de gentios, aceitassem Cristo. Toda a passagem mostra que Deus tolerou os pecados da nação judaica, sem liquidá-los, porque sua existência era essencial em seus planos de salvar o mundo. Dela Cristo surgiu. Dela os apóstolos foram escolhidos. Nela a igreja foi formada, e dela partiram os pregadores do evangelho.

25-29. Como também diz em Oséias. Os 2.23. Ele mostra por esta profecia que foi o plano anteriormente formado de Deus de chamar os gentios à salvação. Em Os 1.10, há uma predição do mesmo significado, que Paulo cita no verso 26. Ambas as passagens mostram que a chamada do evangelho aos gentios somente está em harmonia com o propósito de Deus há muito tempo declarado. 27. Também Isaías clama. Is 10.22, 23. Não apenas os profetas mostram que os gentios deviam ser chamados, mas que boa parte de Israel devia ser abandonada por Deus. A passagem diz que embora o povo de Israel se tornou numeroso como as areias do mar, somente um remanescente é que será salvo. Esta profecia originalmente se aplica ao retorno dos judeus do cativeiro, mas, como muitas outras profecias, tem uma aplicação dupla. 28. Porque ele completará a obra. Este verso, citado de Isaías, mostra por que somente um remanescente terá sobrado. O justo julgamento de Deus eliminará o restante de seu favor. 29. Como antes disse Isaías. Isaías falou isto antes de ter escrito o que é citado nos versos 27 e 28. Isto é encontrado em Is 1.9. Esta passagem, como a outra, mostra que somente “um remanescente de Israel será salvo.” Teríamos nos tornado como Sodoma. Sodoma e Gomorra tinham perecido por conta de seus pecados. Não fosse pela misericórdia de Deus, Israel teria sido destruído pelo mesmo motivo.

30-33. Que diremos pois? Que conclusão chegaremos? Tem sido mostrado que a palavra de Deus não faltou (verso 6), pois foi prenunciado tudo que aconteceu. A conclusão é esta: Que os gentios, que não buscavam a justiça, não tinham conhecimento dela, obtiveram justiça ao aceitar Cristo, pela fé nele, enquanto (verso 31) Israel, que buscava a lei da justiça, não alcançou a justiça diante de Deus por causa da incredulidade. 32. Por quê? Por que este fracasso da parte de Israel? Não porque Deus desejou que eles fossem rejeitados, não por causa de qualquer preordenação, mas por causa de sua incredulidade em Cristo. Não foi pela fé. Eles buscavam não a justiça que vem da fé em Cristo, mas uma justiça de obras pela observação da lei de Moisés. Tropeçaram na pedra de tropeço. Na fé em Cristo, em um Cristo crucificado. Este é o único motivo do fracasso de Israel. Eles caíram por causa da incredulidade.33. Como está escrito. Que Cristo seria uma pedra de tropeço para Israel tinha sido predito em Is 8.14 e 28.16. Quando Jesus veio como alguém humilde, e foi crucificado, os judeus, que esperavam que o Cristo fosse um rei terreno poderoso, tropeçaram e caíram.

Fonte: The People’s New Testament

Tradução: Paulo Cesar Antunes

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