EU CREIO NA CONTEMPORANEIDADE DOS DONS
Por Pr. Silas Figueira - 22/04/14.
Muitas pessoas têm me questionado se
eu creio na contemporaneidade dos dons, a essas pessoas eu tenho respondido que
sim, mas aí surge uma nova pergunta, como eu posso acreditar na
contemporaneidade dos dons se eu sou Reformado (calvinista)? Simples. Por eu
ser calvinista é que eu creio, pois se eu creio na Bíblia e a tenho como regra
de fé e prática como eu posso duvidar que o agir de Deus em relação aos dons
foi só para uma determinada época?
A Bíblia nos fala em 1Co
12.7-11 a respeito de nove dons espirituais:
12.7 A manifestação do Espírito é concedida a cada um
visando a um fim proveitoso.
12.8 Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra
da sabedoria; e a outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra do conhecimento;
12.9 a outro, no mesmo Espírito, a fé; e a outro, no
mesmo Espírito, dons de curar;
12.10 a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento
de espíritos; a um, variedade de línguas; e a outro, capacidade para
interpretá-las.
12.11 Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas
coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente.
Muitas pessoas pensam que por
eu crer na contemporaneidade dos dons eu sou um pentecostal do reteté, que eu
apoio essas manifestações em nome do Espírito Santo que, infelizmente, mais
parecem coreografia de centro espírita; eu não apoio nada disso e na igreja que
pastoreio isso não ocorre. Eu quero deixar bem claro que eu sou radicalmente
contra a tudo isso, aliás, no meio pentecostal eu sou visto como uma pessoa
“tradicional”, ainda mais por pertencer a Convenção Batista Brasileira, mas no
meio “tradicional” eu sou visto como renovado. No que eu creio então, muitos
perguntam, já que eu desaprovo essas manifestações? Eu creio em tudo que está
escrito em 1Co 12-14 não só por estar escrito como também por experiência
própria. Durante esses quase trinta anos que sirvo a Deus eu tenho aprendido e
visto muitas coisas. Tanto o agir de Deus, quanto o agir de Satanás, pois nós
não ignoramos os seus desígnios, como disse o apóstolo Paulo. Se a Bíblia nos
fala na ação de Satanás e Paulo deixou isso bem claro em Efésios 6 onde diz que
devemos nos revestir de toda a armadura de Deus para resistirmos no dia mal,
como eu posso aceitar que as manifestações e ataques de Satanás são para hoje e
duvidar das promessas de Deus e dizer que esse revestimento de poder e
autoridade que se encontra em 1Coríntios 12 ficaram no passado? Como dizem
alguns que isso cessou com a morte com os apóstolos? Isso é incoerente.
Se for assim eu também não posso
crer quando Paulo nos fala a respeito do Fruto do Espírito. Isso também cessou
com na morte do último apóstolo?
No entanto eu quero deixar bem
claro que os dons espirituais não foram dados à igreja para projeção humana e
nem é uma forma de medir o grau de espiritualidade de uma pessoa ou igreja. A
Bíblia nos fala claramente que os dons foram dados para a edificação do Corpo.
Hernandes Dias Lopes observa que existem quatro posições em relação aos dons
dentro da igreja.
São eles:
1 – Os
cessacionistas. São
aqueles que creem que os dons de sinais registrados em 1Coríntios 12 foram
restritos ao tempo dos apóstolos . Para os cessacionistas esses dons não são
contemporâneos nem estão mais disponíveis na igreja contemporânea.
2 – Os ignorantes. São aqueles que não conhecem nada sobre dons.
Paulo orienta os coríntios para não serem ignorantes com respeito aos dons
espirituais. Havia gente na igreja que ignorava esse assunto, e por isso, não
podia utilizar a riqueza dessa provisão divina para a igreja.
3 – Os medrosos. São aqueles que têm medo dos dons. Aqueles que têm
medo dos excessos. Medo de cair em extremos. O medo leva as pessoas a enterrar
os seus dons e não utilizá-los para a glória de Deus nem para a edificação do
corpo.
4 – Os que creem na contemporaneidade. São aqueles que creem que os
mesmos dons espirituais concedidos pelo Espírito Santo no passado estão
disponíveis para a igreja atualmente [1].
O problema não são os dons
espiritais, mas o mau uso deles. Por isso que o apóstolo Paulo chama a atenção
da igreja de Corinto em relação a isso. Pois apesar de tantos dons aquela
igreja era totalmente carnal. Não havia maturidade espiritual, esta era uma
igreja infantil (1Co 3.1,2):
“Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a
espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo. Leite vos dei a
beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem
ainda agora podeis, porque ainda sois carnais.”
Mas tem uma coisa que me chama
a atenção é que um dos dons mais questionáveis é o falar em línguas, os outros
até não se questiona tanto, mas o falar em línguas esse é terrivelmente
questionável. Não é porque se duvida desse dom em particular que ele não é para
hoje. Muitos ainda dão a belíssima interpretação de que esse dom é a facilidade
em aprender novos idiomas, mas não é isso que o texto fala. Eu conheço gente
que é poliglota e está longe de ter uma vida com Deus. Isso não é
justificativa.
Citando mais uma vez o Rev.
Hernandes Dias Lopes, ele diz que é importante ressaltar que o dom de variedade
de línguas tem valor. Tudo o que Deus dá é importante. Se é o Espírito Santo
que dá esse dom, então, ele tem valor [2]. No entanto eu quero ressaltar que
esse dom não edifica a igreja, mas a pessoa que o tem, a não ser que haja
interprete (que é também um dom), para interpretar o que está sendo falado e
assim toda a igreja será edificada. Tanto que o apóstolo Paulo fala que se não
houver intérprete que a pessoa fique calado (1Co 14.27,28):
“No caso de alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois ou
quando muito três, e isto sucessivamente, e haja quem interprete. Mas, não
havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus.”
Não devemos dar maior valor a
um dom que a outro, pois todos são importantes. Mas o que temos visto no meio
pentecostal é uma importância muito grande ao falar em línguas, como se esse
dom fosse a prova cabal de que alguém foi batizado no Espírito Santo. Mas eu
quero destacar duas coisas que são de muita relevância em relação a esse
assunto. Primeiro, se nós observarmos na relação dos dons o falar em línguas
ocupa o penúltimo lugar entre os dons. Com isso eu vejo que a pessoa pode ter
qualquer outro dom e não falar em línguas. Em segundo lugar, o batismo no
Espírito Santo é a imersão no corpo de Cristo no momento da conversão, como nos
deixa claro em 1Co 12.13:
“Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus,
quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só
Espírito.”
Aquilo que os pentecostais
chamam de Batismo no Espírito Santo na verdade deveria ser chamado de
“Revestimento de Poder”, que é real, só o nome que está errado.
Talvez você então venha
questionar o que é esse “agir de Deus” na maioria das igrejas pentecostais,
quero falar isso com muito temor e tremor que isso muitas vezes não passa de
histeria, quando não muito a ação satânica. Assim como os crentes da igreja de
Corinto vieram, na sua maioria, das religiões de mistério, pois adoravam aos
ídolos e eram guiados por espíritos satânicos e muitos deles queriam incorporar
ao culto a Deus esses rituais é isso o que temos visto hoje em muitas igrejas
pentecostais uma cópia de muitos centros espíritas. Temos visto o rodar, o
correr, a dança, dons dos mais diversos que não constam na Bíblia e por aí vai.
Mas eu quero deixar bem claro que por isso estar acontecendo em muitas igrejas
não anula o agir de Deus em nosso meio hoje e nem deveríamos deixar de lado o
que a Bíblia tem para nós hoje.
Os dons têm um propósito, pois
tudo que Deus nos dá tem um propósito. Eles são para a edificação da igreja. O
benefício não é individual, mas para que toda a igreja seja edificada. Não
tenha medo de buscar de Deus esses dons, deixe o Espírito Santo usar você para
que o Corpo de Cristo que é a Sua Igreja seja ainda mais abençoado.
Pense nisso e fique na Paz!
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Notas:
1 – Lopes, Hernandes Dias. 1Coríntios, como resolver conflitos na igreja, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008: p. 224.
1 – Lopes, Hernandes Dias. 1Coríntios, como resolver conflitos na igreja, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008: p. 224.
2
– Ibid, p. 226.
Fabio Campos
"Precioso
Jesus"
“Aprendais
a não ir além do que está escrito" (1Co. 4:6)
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