sexta-feira, 2 de agosto de 2019


Como um pentecostal pode se tornar um neocalvinista.

Pastor César Moisés Carvalho
Endosso Pastor Themmy Lima - 02/08/19
Quer saber como um pentecostal, sem perceber, pode se tornar um neocalvinista e, posteriormente, um cessacionista, deixando de crer em:
1) batismo no Espírito Santo com a evidência inicial de falar em línguas estranhas, 
2) na atualidade dos dons e 
3) nos milagres?

1) O pentecostal, geralmente jovem, com razão, se decepciona com a manipulação inescrupulosa de alguns pregadores. Já no Ensino Médio ou até na universidade, ávido por conhecimento, ele não se satisfaz ouvindo o dirigente de sua congregação e então busca conhecimento teológico;

2) Cansados de pregações desprovidas não apenas de fundamentação bíblica, mas até de bom senso, sendo muitos deles aspirantes ao ministério, esses jovens passam a ouvir expoentes reformados e se encantam com o sermão expositivo e também tornam-se leitores das obras neocalvinistas;

3) Uma vez que a produção textual pentecostal, em língua portuguesa, é de natureza mais devocional e, quando teológica, centrada majoritariamente na escatologia, a pneumatologia desses jovens passa a ser moldada pela perspectiva reformada que, como todos sabem, é cessacionista;

4) Uma vez admiradores dos expoentes reformados, esses jovens avessos à manipulação que alguns fazem em nome do Pentecostalismo, são convencidos de que não há experiências genuínas e que elas não podem ser verdadeiras e nem atuais, pois não têm respaldo bíblico. Ainda que a Palavra de Deus ateste claramente a experiência e atualidade dos dons, eles já estão decepcionados e “seguros” de que não há fundamento bíblico para a fé pentecostal. Pois, a despeito de os expositores reformados reconhecerem que existem pastores sinceros no Movimento Pentecostal, eles não utilizam “métodos científicos” de interpretação da Bíblia. Como o Pentecostalismo é uma expressão da fé cristã que utiliza mais a oralidade, os teólogos pentecostais, mesmo os sinceros, são vistos como inaptos pelos jovens que já foram convencidos de que "teólogo pentecostal não sabe interpretar a Bíblia";

5) Percebendo a frequência cada vez maior da evasão dos jovens para as igrejas e/ou eventos reformados, e também decepcionados com alguns manipuladores em nosso meio, muitos líderes adotam uma postura perigosa: Passam a convidar expoentes reformados para falar para os jovens em suas igrejas, sem saber que agindo assim estão “legitimando” o preconceito espalhado pelos teólogos neocalvinistas acerca do Pentecostalismo;

6) Aliado a este fato, temos pregadores pentecostais que, no afã de não serem confundidos com os manipuladores, passam a combater a decadência e o desvio feitos em nome do Pentecostalismo, com críticas, provenientes da leitura de autores cessacionistas, reforçando o discurso de que os expoentes reformados estão certos em seus argumentos acerca do fato de o Pentecostalismo não ser uma expressão legítima da fé;

7) Eles não percebem que, agindo dessa forma, inconscientemente estão aceitando o fato de que a teologia reformada está sendo instaurada como a norma — ou padrão — para averiguar o que é, ou não, correto, ortodoxo e bíblico. Sendo a referida teologia calcada em um período da história — século 17 — em que tudo tinha de ser provado matemática e racionalisticamente (inclusive na época que o deísmo era a posição de muitos cientistas cristãos, como Isaac Newton, por exemplo), ela não contempla a possibilidade da intervenção divina e nem a atualidade dos dons e dos milagres. É importante notar que não se trata das doutrinas mestras do Cristianismo, posto que estas não são propriedades de nenhuma expressão particular da fé ou de qualquer denominação, mas pertencem à religião cristã e, por isso mesmo, definem quem de fato pode ou não ser classificado como cristão;

8) As editoras de linha tradicional que já contavam com um amplo catálogo, acabam também "ajudadas" por outras, não reformadas que, ao avaliar uma obra e perceber que ela não trata da soteriologia, publicam livros dos autores cessacionistas, tornando-os mais "populares" entre pentecostais. Isso se dá pelo fato de que os próprios editores, sem perceber, foram convencidos de que apenas expoentes reformados escrevem e produzem teologia. “Pentecostal não escreve, mas apenas prega”, é o que se espalhou. No entanto, ainda que infinitamente menor, a produção textual dos teólogos pentecostais, no mundo, é abundante e segue uma tendência diferente da teologia reformada (algo que lamentavelmente demorou para se perceber aqui no Brasil);

9) Grandes eventos, que se iniciaram com um propósito — defender a fé cristã — e eram dirigidos por pentecostais, tornaram-se majoritariamente capitaneados por expoentes reformados. Estes, que sempre foram acostumados a falar para poucas dezenas de pessoas em suas igrejas, agora, com muita retórica e habilidade, recebem todos os anos um público leigo com milhares de pessoas, formado esmagadoramente por pentecostais, que sai convencido de que realmente tudo — no “mundo evangélico”, leia-se, Pentecostal — não passa de banalização e que cristianismo genuíno é neocalvinista/cessacionista, ou seja, a fé cristã de onde esses expoentes são originários. Como eles fazem isso? Tomando o todo pela parte, ou seja, dando os piores exemplos que acontecem por aí em nome do Pentecostalismo. Uma vez que ninguém em sã consciência concorda com tal decadência, coloca-se tudo no mesmo pacote e então joga-se o que é genuíno juntamente com o que nunca foi, não é, e nunca será, Pentecostalismo;

10) Finalmente, um dado que merece muita ATENÇÃO: 
Pentecostais que sucumbiram ao cessacionismo, não apenas através da literatura reformada, mas também foram estudar em instituições reformadas, tornando-se declarada, ou disfarçadamente (esses são em número infinitamente maior em nossas igrejas) neocalvinistas, achando-se agora racionais, juntam-se aos expoentes que debocham de nossa fé  Pentecostal e simples e estão dentro de nossas igrejas fazendo discursos proselitistas sob a desculpa de que precisamos corrigir os excessos, as manipulações, a banalização do sagrado e sermos maduros, tornando o Pentecostalismo esvaziado de suas características, ou seja, visando-se a despentecostalização do Movimento. Assim, têm-se não apenas a ameaça de fora, mas a militância de dentro, pressionando a igreja para que ela sucumba ao cessacionismo. 

Bom 

Cesar Moisés

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