sábado, 23 de maio de 2020


O QUE JESUS QUIS DIZER COM A EXPRESSÃO “GRANJEAI AMIGOS COM AS RIQUEZAS DA INJUSTIÇA”?
Organizador
Professor Pastor Themmy Lima


INTRODUÇÃO
O capítulo dezesseis do Evangelho de São Lucas é fantástico e uma das passagens mais controversas do livro seja os vers. (1-13) – de todas as parábolas de Jesus esta deva ser a mais complexa e intrigante por utilizar-se de ações espúrias para atingir alvos certeiros no Reino.
Mas, será que isto seja realmente o que a parábola quer dizer?
Vejamos com atenção a exegese do texto:
Os treze primeiros versículos do capítulo trás a parábola do “Mordomo Infiel”, o Senhor Jesus utiliza-se deste personagem para apresentar a seus discípulos (v1) algo importante para a jornada de suas vidas que não deveria ocorrer-lhes.

DESCRIÇÃO DO CENÁRIO PARABÓLICO
A descrição do cenário parabólico ocorre durante a narrativa do Senhor Jesus descrevendo os personagens sendo que entre os vers. (1 a 8) encontra-se a descrição da parábola, mas dos vers. (9 a 13) uma narrativa.
Portanto, o adequado a ser feito seja descobrir quem são ilustradamente cada personagem.
Se minha proposta puder ser aceita como uma possibilidade descritiva então os personagens da parábola assumiriam cada um a seguinte posição ilustrativa:
O “homem rico” – seria Jesus
O “mordomo” – os trabalhadores da vinha ou do evangelho
Os “devedores” – os seres humanos (não necessariamente apenas cristãos)
Deus – o autor e narrador da parábola.
Mamom – o “deus” do dinheiro representado príncipe deste século ou satanás.

O “mordomo” pessoa que administra os bens do “homem rico” teve uma conduta que lhe causou problemas, seus atos se espalharam onde atuava chagando até ao conhecimento do “homem rico” [Jesus].
O que acarreta uma convocação na frase aparece como [chamando-o], lhe pergunta:
Que é isto que ouço de ti?
Esta pergunta será definitiva para a sequência de toda a parábola como veremos mais a frente.
O v8 – trás [1]a palavra grega δτι pode ser interpretado como indicador de discurso indireto. Ou seja, o senhor elogiou o administrador desonesto (dizendo) que o administrador agiu com esperteza. Entretanto, δτι pode também ser tomado em sentido causal, isto é, o senhor elogiou o administrador desonesto porque o administrador tinha agido com esperteza. 

Indicador de discurso = o administrador desonesto = agiu.
Sentido causal = o administrador desonesto = tinha agido.

Portanto, a pergunta [Que é isto que ouço de ti?] – é uma expressão de “Sentido Causal” – tinha agido.
O administrador desonesto tinha agido de forma desonesta, ainda que sua intenção tenha sido como muitos comentaristas aponte “o bem” [pouco provável], porque na [2]cultura da época as ocorrências de trocas como pagamentos requeriam pequenas marcas nos papéis, feitas pelos próprios clientes, o que provavelmente levou os clientes do senhor a se representar contra o mordomo.
Na passagem ele é retratado por ter [astucia] dai a ligação com Mateus. (10.16)
Observe que a ligação entre (Mt 10.16 com Lc 16.1-13) é grande uma vez que a intenção do Senhor Jesus era ensinar os discípulos do perigo que corriam ao saírem pela seara deparando-se com o príncipe deste século “o dinheiro”. (Lc 10.1-9) – “Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas”. (Mt 10.16) claramente vemos Jesus preparando seus discípulos.
Quem são as ovelhas? – R: Os discípulos tanto em Mateus como em Lucas.
Quem são os lobos? – R: tanto em Mateus como em Lucas os componentes da seara.
Prudentes como as serpentes e símplices como as pombas – aponta para “ações” seja do lado benéfico ou maléfico é neste sentido que surge o comparativo entre serpentes alusão aos seguidores de satanás o povo sem Jesus que são muitas vezes “prudentes” ao contrario das “pombas” alusão aos cristãos que muitas vezes são “símplices” ou negligentes, imprudentes, desatenciosos, etc.

A astúcia do mordomo está na pergunta que faz para si: “Que farei, pois que meu senhor me tira a mordomia?”v3 – ou seja, rapidamente justifica-se “Cavar não posso; de mendigar tenho vergonha”, v3 rapidamente encontra uma saída.
Perder a mordomia implicava em perder respeito, moradia, confiança e tudo o que gozava em tempos áureos, a saída foi convocar “os devedores do seu senhor” fazendo-lhes uma negociata não visando o bem do patrão, mas seu próprio bem ao primeiro negocia percentuais de 100/50 ao segundo percentuais de 100/80.
Por tudo que no mordomo infiel fez é que se encerra o primeiro quadro do cenário (vers. 1-8) com a expressão: “E louvou aquele senhor o injusto mordomo por haver procedido prudentemente, porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz”.   

ANÁLISE DO VERSÍCULO 8
O louvor aqui na verdade não expressa ao favorável, mas ao contrário algo desfavorável para si.
A expressão “injusto mordomo”, claramente assegura que Jesus jamais teve corroboração com o pecado, portanto, teologicamente não pode ser aplicado como algo favorável.
procedido prudentemente” – ainda que o ato seja maléfico o procedimento do mordomo infiel foi certeiro.
filhos deste mundo X filhos da luz” – Deus tem vários tipos de filhos, mas aqui Jesus esta comparando a nação de Israel com a Igreja.
No AT Israel é chamado de Filho (Êx 4.22), em o NT Jesus cabeça da Igreja é tratado como Filho de Deus (Mt 4.6/1Co 12.27), portanto, filhos do mundo são os que não estão inseridos no Corpo=Igreja – suas ações os faz pensar que são astutos ao passo que os filhos da luz, ou seja, os membros do Corpo=Igreja são tratados como leigos na astúcia mundana.

SEGUNDO CENÁRIO NARRATIVO
O segundo cenário tem inicio com o v9 pela frase mais complexa possível de o Novo Testamento “[3]granjeai amigos com as riquezas da injustiça”, este versículo quando mal interpretado é visto como meio favorável para ações indecentes, mas que produzem bons resultados para o Reino, o que não é verdade.
O Senhor Jesus está apenas afirmando no v9 o que fora explicado no v8.
A relação amigos x dinheiro é uma antiga produção maligna, e possui duas vertentes: (1) quando se tem dinheiro se tem amigos, (2) quando a quantidade de dinheiro aumenta inverte-se as coisas, pois quanto mais dinheiros mais inimigos.
Fazer [granjear], amigos por meio da injustiça = dinheiro imoral não os levará para o Reino, isto é ilusão; Jesus faz uma alusão sarcástica [quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos], e dá um nó na cabeça dos ouvintes [discípulos].

DEFINIÇÃO DE FIDELIDADE NA VISÃO DESTE AUTOR?
Fidelidade é uma característica de quem é fiel, ela demonstra além do zelo e respeito de forma ampla que a pessoa tem para com todos, assim ela [a fidelidade], está inserida nas ações do ser humano e no desenvolvimento contínuo do seu caráter.
Quase todos os comentários bíblicos ou bíblias de estudo analisam a parábola apenas pela ótica das falas expositivas ou narrativas do Senhor sem se atentar para as “ações e ocorrências envolvendo o mordomo” este detalhe faz a voz do Senhor Jesus torna-se uma advertência ao contrário duma provável exaltação como sugere alguns.  
O caráter do mordomo bem rapidamente foi descoberto, assim como sua fidelidade, que em nada provia o bem do seu senhor, mas sua segurança própria por meio de um novo emprego após ajudar os devedores do seu senhor.

OS VERSÍCULOS 10-13 DEFINEM TODO O EXPOSTO
V10 – Quem é fiel no mínimo também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo também é injusto no mínimo.
Análise – “Quem é” esta expressão distingue dois tipos de pessoas as fiéis e as injustas [infiéis].

V11 – Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará às verdadeiras?
Análise – “verdadeira” esta é uma daquelas palavras que isoladamente não representa quase nada, mas inserida no contexto parabólico esclarece muito, ela esta ligada as riquezas tanto as do céu quanto as da terra, veja o que o próprio Jesus disse certa ocasião a respeito: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam[4]”.

V12 – E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?
Análise – “alheio” – esta palavra destaca-se por dar sentido ao cuidado que devemos ter com as coisas alheias aos nossos cuidados, a ação relapsa nos trará dano a respeito do que é nosso [vosso], além de que a expressão “vos dará” claramente aponta para alguém [Jesus], maior do que nós que nos premiará [futuro], ou não mediante nossas ações e responsabilidades enquanto cuidar das coisas do Reino na terra.

V13 – Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque ou há de aborrecer a um e amar ao outro ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.  
Análise – “dois senhores” – surge no final da parábola à distinção promovida pelo Senhor as ações humanas são acompanhadas de responsabilidade, não podendo, serem utilizadas para servir a dois senhores, ou servimos a Deus ou servimos ao deus do dinheiro. [[5]Mamom]

CONCLUSÃO:
A resposta à pergunta tema desta análise:
O que Jesus quis dizer com a expressão “granjeai amigos com as [6]riquezas da injustiça”?
A melhor conclusão que podemos chegar a respeito de riquezas = mamonas é [7]as riquezas, bens ou dinheiro que tem valor nesta vida presente, mas que certamente não poderão prover as necessidades eternas.
EDWARDS – [8]Em seu comentário assevera que a palavra “dinheiro” quase que com certeza deriva do termo hebraico amam (da qual se origina a palavra amém), significando “confiar em”.
A meu ver é o que melhor se aplica ao contexto geral da parábola apresentado apenas por uma excelente tradução exegética promovida pelo editor Mundo Cristão ao trazer luz ao centro da parábola.

Eu, porém, vou dizer a vocês para girem assim, buscando fazer amigos por meio de trapaça? Isso vai garantir a entrada de vocês no lar eterno, no céu? Não! Porque se vocês não foram honestos nas coisas pequenas, não serão nas grandes. Se vocês enganam um pouquinho só, não serão honestos nas responsabilidades maiores.
[9]Bíblia Viva – Lc 16.9

Caso haja alguma possibilidade de confronto ao exposto este autor fica aberto a aceitar confronto e opiniões, não tendo por encerrado o assunto ou seu ponto de vista.
Professor pastor Themmy Lima.

BIBLIOGRAFIA
Bailey, Kenneth – As Parábolas de Lucas – VIDA NOVA 1ª edição 1985 – p.257-278.
Blomberg, Craig L. – Pregando as Parábolas – VIDA NOVA 1ª edição 2019 – p. 103- 118.
Boyer, Orlando – Espada Cortante Vol.2 – CPAD 6ª edição 2009 – p. 141.
Crawford, N. – Comentário Ritche NT – EDS 1ª ed. 2000 – p. 354.
Davis, Kenneth Lee – Bíblia Sagrada Almeida Século 21 – VIDA NOVA/HAGNOS 1ª edição 2008 – p. diversas.
Edwards, James R. – Comentário de Lucas, O – SHEDD 1ª edição 2019 – p. 579.
Kenner, Craig S. – Comentário Bíblico Atos NT – ATOS 1[ edição 2004 – p. 243. 
KLASSEN, Susana – Bíblia de Estudo Nova Versão Transformadora (NVT) – MUNDO CRISTÃO 1ª edição 2008 – p. diversas. (deprimente esta tradução ponto de vista do autor)
Lockyer, Hernert – Todas as Parábolas da Bíblia – VIDA 8ª edição / 7ª impressão 2007 – p. 334-342.
Lopes, Hernandes Dias – Comentário Expositivo do NT Vol 1 Os Evangelhos – HAGNOS 1ª edição 2019 – p. diversas.
Stamps, Donald C. – Bíblia de Estudo Pentecostal – CPAD 1991/SBB 2011 – p. diversas.
Vários Colaboradores – Bíblia Viva 4ª edição – Ed. Mundo Cristão (1988) p.88 NT.



[1] Texto da excelente obra Variantes Textuais do NT – p.139
[2] Extraído da Obra Comentário Bíblico Atos do NT – p. 243.
[3] Orlando Boyer diz que a expressão aponta para o repúdio de Cristo em relação a desonestidade da administração infiel do servo. p.141
[4] Sociedade Bíblica do Brasil. (2009). Almeida Revista e Corrigida (Mt 6.19–20). SBB
[5] Segundo a excelente exposição exegética produzida pelos autores da obra os exegetas e linguistas J. H. Mouton e W. Milligan dizem que a palavra “riquezas” (sign., mamonas) é derivada da palavra hebraica que (sign., depositado).
[6] E outro linguista W. E. Vine cita “tesouro” Gn 43.23 como um exemplo.
Por isto, em (Mt 6 e em Lc 16.13) personifica um senhor e está em oposição a Deus, não podemos achar outras expressão comparável a “riqueza da injustiça” qualquer outro local das Escrituras.
[7] Extraído da Obra Comentário Rithie – p. 353
[8] Edwards, James R. – Comentário de Lucas, O – p. 580.
[9] Bíblia Viva – 4ª edição Mundo Cristão (1988) p.88 NT

Um comentário:

  1. Confesso que não entendi o texto. O resumo seria: houve um erro de tradução? A conclusão não ficou clara. Se puder me ajudar, agradeceria.

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