terça-feira, 25 de outubro de 2016

O que é Sinergismo e Monergismo – Parte. 2 Pr. Themmy Lima

O que é Sinergismo e Monergismo – Parte. 2
Pastor Themmy Lima
            Em decorrência da necessidade existente entre o mercado literário e o que se publica neste mercado, surge uma pequena, mas poderosa “gota” d’água num oceano vasto e complexo, contudo, uma nota sobre esta importante vertente da teologia chamada de Sinergismo e do seu parente o Monergismo; É que aparece reflexão sobre este assunto pouco explorado pelos teólogos do nosso tempo.
            Resolvi escrever um artigo sobre o assunto, publicado no Blog. Mundo Teológico em que sou o precursor, após a leitura muitos amigos ou leitores pediram para abordar com mais amplitude o assunto.
            Foi então que resolvi apresentar com maior abrangência as diferenças sobre esta necessidade que o meio teológico carece.

os meninos estão atrapalhando a igreja
            A começar pelo que chamo de “meninos”, estão na pauta das igrejas atuais, este é um problema que se instaurou no meio cristão, principalmente no meio pentecostal conservador, este problema é decorrente da má instrução fornecida aos membros que num futuro muito próximo ou precoce irão aspirar ao episcopado, porém não como sugere a Bíblia.
            É comum principalmente no meio pentecostal, surgir os “meninos”, taxados por pregadores, iniciam a caminhada lendo livros sem o real teor que pactua com o ministério que congrega.
            Estas indicações geralmente ocorrem por pessoas que já possuem alicerce teológico, mas contrário ao ministério do “menino” o resultado é catastrófico.
            Serei mais claro – os monergistas estão por ai indicando livros de Soteriologia para jovens pentecostais o que tem acarretado uma demanda sensível, mas constante cada vez maior para a doutrina monergista.
            A pergunta então é.
            Por quê?
            A resposta ao problema é extensa e complexa, mas de forma objetiva.
            Porque, não formamos pastores preparados para doutrinar a Igreja.
            Cristo se preocupou com este problema tanto que deu a Igreja mestres ou doutores (Ef 4.11), mas o pentecostalismo tem tomado o lugar do conhecimento.
            A Igreja de Cristo merece ser doutrinada pela Sã Doutrina, ela merece esse apresso, mesmo porque, nossos jovens estão com uma gana de informação cada vez maior, os jovens de hoje não são os jovens de trinta anos atrás.
            O que o pastor Sinergista não fizer os monergista irão fazer.

EU PREGO BEM..... – Destacar-se por uma boa eloqüência não pode e nem deve ser fator preponderante para elevar um “garoto ou menino” ao santo ministério. Só por lhe aplicar o jargão “Deus está usando”. Lembremos o que está na Bíblia ao surgir a necessidade de ministros na Igreja o Espírito Santo destacou para o bem da Igreja a seguinte ordem. “Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra.” (At 6.3-4)
            Como podemos observar o ministério da palavra requer oração e maturidade para uma boa exposição, não uma enxurrada de livros e mais livros.
            Não que isso seja errado, pelo contrário é excelente e principalmente bíblico, mas tudo tem seu tempo, mais especificamente o que disse o sábio. “tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar; (Ec 3.7)
            Eis o motivo pelo qual encontramos tantos desencontros nos púlpitos das Igrejas Pentecostais, erro que não acontece tanto nos púlpitos de igrejas conservadoras como Batista ou Presbiteriana que são monergistas
            Pregar bem, ter boa eloqüência e desenvoltura acadêmica, não é sinônimo de ministério, eis aí o motivo de tanta fraqueza espiritual em nossos púlpitos, muitos livros e poucas orações, justamente o que marcou a Assembléia de Deus, a dependência do Espírito Santo.
            Vale lembrar que os monergistas afirmam depender do Espírito Santo, mas nega sua eficácia na prática, olham para os pentecostais pelos bastidores como “meninos”.  

INFORMação x preparação  
            Algumas necessidades são urgentes e necessárias no meio pentecostal uma delas talvez a mais urgente seja a informação seguida pela boa preparação, visando alcançar a perfeição ou no mínimo minimizar erros grosseiros. Visto que uma boa preparação só ocorre quando há uma informação sólida e precisa.
           A informação está errada – é cada dia mais notório a enxurrada de livros que surgem no mercado literário principalmente no cenário evangélico, mas nenhum surge como meio de instrução adequada. Por incrível que pareça quem faz isso com perfeição são os neopentecostais com livros específicos de “auto-ajuda”. 
            Em decorrência dessa falha é cada vez maior se deparar com pessoas que procuram livros inadequados para suas necessidades reais. Não temos neste sentido líderes que instruam a igreja que está aos seus cuidados a adquirirem livros adequados há seu tempo e realidade.
            Vou citar algumas aberrações que presenciei, trabalhando como consultor teológico, não poucas foram às vezes que me deparei com jovens pentecostais procurando a Bíblia de Genebra.
            Com habilidade de consultor consegui formular a pergunta necessária.
            Você é calvinista? 
            Inevitavelmente a resposta era.
            Não.
            Neste momento estabelecia a segunda pergunta.
            Porque quer adquirir esta Bíblia?
            As respostas variavam de pessoa para pessoa.
(1)   Indicaram-me.
(2)   Acho o nome bonito.
(3)   Preciso de uma bíblia para ir a Igreja.

E por ai a fora.
Tão logo começava informar que aquela Bíblia contradizia a fé e a doutrina Pentecostal e os ensinos do Espírito Santo em que cremos e aos princípios do pensamento Arminiano, eles desistiam, de adquirir aquele exemplar.
Um jovem sem instrução adequada com uma Bíblia destas nas mãos faltar-lhe-ia pouco para tornar-se um “monergista”.
            A falta de instrução é tão grande que não é estranho que pessoas tidas por “pentecostais” adquiriram um Dicionário muito famoso intitulado VINE, instrumento altamente recomendável ao publico lingüista que domina o idioma hebraico e grego.
            É certamente uma poderosa ferramenta de estudo nas mãos de pessoas qualificadas, mas uma bomba atômica nas mãos de pessoas que não possuam as qualificações necessárias para utilização.
            O que tornaria contraditório o pensamento “sinergismo”.

ESCLARECENDO O QUE É NECESSÁRIO
A INFORMAÇÃO DEVE SER CLARA – No primeiro trabalho feito sobre o Monergismo e Sinergismo não procure a bordar de forma etimológica as palavras que trazem nossa reflexão, mas devido ao esclarecimento que pontuo nesta seqüência reflexiva creio ser adequado opinar por este esclarecimento.

SOBRE A PALAVRA SINERGISMO – esta palavra vem do Gr. sunergos = cooperação. Uma doutrina da cooperação entre Deus e os homens. Posto o esclarecimento do termo se algum “monergista” se atrever a negar o sinergismo estará diretamente dando um tiro no pé.

O SENTIDO DO SINERGISMO – O sentido do sinergismo é procurar conciliar duas verdades paradoxais:
(1)   A Soberania de Deus – Que em nenhum momento é negada pelo sinergista.    
(2)   A responsabilidade moral humana – Que biblicamente não pode ser descartada.

            Em nenhum local estas vertentes SOBERANIA x responsabilidade se entrelaçam mais fortemente de que na conversão do pecador, porque mesmo que o calvinismo extremado afirme que o homem nem precise da pregação do evangelho por já estar eleito para salvação, ainda assim, seja necessária a existência do homem para haver concretização da Soberania Divina.
            Portanto, Como conseguiriam explicar isso?
            Lutero em seu catecismo maior escreve:

Creio que não posso, pelo meu próprio raciocínio ou força, crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem chegar a Ele. Mas, o Espírito Santo chamou-me através do evangelho, iluminou-me com Seus dons, e me santificou e me conservou na fé verdadeira

            Erasmo disse:

O livre- arbítrio é o poder de aplicar-se a graça

            Uma pergunta me sobe ao coração referente a graça; Como seria possível aceitar a graça se não houvesse o livre-arbítrio?
            Muitas vezes o monergismo procura esconder as verdades do sinergismo talvez, com medo que sua estrutura caia por terra e apareçam suas falhas grotescas quanto à doutrina da salvação.
            Partamos do sentido primário da palavra “salvação” – se salvação é atribuir a alguém que esteja em perigo, logo não pode ser aplicado a apenas para uma parte da humanidade que esteja em perigo, mas senão toda ela. Se for contrário a isso tornamos Deus injusto, porque procurar salvar apenas uma parte e outra não, utilizando para isso sua Soberania.
            Contradizer um dos atributos Divino a unibenevolência, (em que está inserido seu amor), para com todos surge o texto de Tito. (TT 2.11)
            Outro detalhe que complica os calvinistas (monergistas) é em relação a quantidade de salvos, em nenhum lugar da Bíblia encontramos percentuais para salvação; No pensamento calvinista este percentual supostamente esteja determinado apenas aos eleitos, portanto, por inferência podemos nós sinergistas afirmar que esta salvação está disponível para 100% da humanidade, ainda que o percentual de aceitação seja desconhecido da humanidade cabendo exclusivamente a Deus.
            A isto, chamo de Presciência.   
            Pouca gente sabe, mas durante a reforma feita por Lutero ocorreu uma controvérsia sinergista. Os estudiosos debatem se Philip Melanchthon foi sinergista. É certo que escreveu que “o homem é totalmente incapaz de praticar o bem” e que nas “coisas externas” (questões seculares) há livre arbítrio, mas não nas “coisas internas” (questões espirituais). Na segunda edição da sua obra Loci, (publicada em 1535), Melanchthon escreveu que na conversão: “Três causas operam em conjunto:”
(1) a Palavra,
(2) o Espírito Santo,
(3) e a vontade, (não totalmente inativa),
            Mas resistindo a sua própria fraqueza... Deus atrai, mas atrai aqueles que estão dispostos... E a vontade não é uma estátua, e aquela emoção espiritual não é cunhada sobre ela como se ela fosse uma estátua”.   


Presciência – mito ou realidade
            O calvinismo aponta a presciência Divina como sendo ELEIÇÃO, ainda que esta seja uma doutrina bíblica há de se definir o correto sentido da palavra para entender o contexto em que ela é aplicada.
            Sem entrar no mérito merecido do que venha ser a “eleição” (ato de escolha), vale lembrar que qualquer tipo de eleição está inserido na presciência de Deus, pois ELE antevê até mesmo o que não ira [1]realizar.   
            Escolher, portanto, não pode estar aplicado única e exclusivamente ao principio da salvação, porque a soteriologia é muito mais ampla do que a mente humana pode alcançar. Mesmo o porquê “[2]Quem se atreve pensar ou afirmar que não esteve no poder de Deus impedir a queda do ajo e do homem? Preferiu, todavia, não lhes retirar esse poder, e demonstrar assim de quanto mal era capaz a soberba deles e de quanto bem era capaz a sua graça.”  
            Conquanto conhecer o sentido real da palavra pode trazer luz à má influência fornecida pelos monergistas trazendo sólida reflexão ao cristão no seu propósito de adoração.
            Procuro apresentar o que entendo ser a correta definição para “presciência”.
            Inicialmente deve-se dividir a palavra em duas partes:

Pre

ciência
Pré – Anterioridade referindo-se ao preparo de algo ou do que está antes do início.
            Em sentido teológico prever antecipadamente. (previsão)
Ciência – Do Lat. Scientia refere-se ao conhecimento rigoroso e racional de qualquer assunto.
            Podemos definir que presciência seja de forma objetiva “algo que está antes do inicio dentro do conhecimento racional de qualquer assunto”, portanto, alheio a capacidade humana de antever o futuro, não cabendo ao humano tentar definir o que Deus não nos revelou. Supor que Deus tenha escolhido alguns para salvação e outros para condenação é no mínimo infame e irreal.
            Uma vez apresentado o sentido lato da palavra.
            Como entender a falácia dos calvinistas sobre a dupla predestinação?
            Segundo esta linha de pensamento uns (seres humanos), são melhores que outros até que Deus venha separar os que com ELE ficarão. Até este ponto podemos aceitar como correto o incorreto é tentar fazer-nos aceitar que é Deus quem estabeleceu o erro de uns e o acerto para outros. Contradiz as Escrituras que afirmam que Deus não faz acepção de pessoas, ou seja, tratamento desigual de pessoas, com favoritismo, parcialidade e injustiça. ([3]Dt 16.19; [4]At 10.34)  
           
Predestinação uma realidade deturpada
            Ainda que a presciência de Deus esteja incutida na Bíblia ela é mais forte ao apontar para a “predestinação”, o termo grego “proorizo” diz-nos sentido totalmente diferente do que propõe os monergistas, ela procura dizer que Deus estabelece o ato de limitar ou determinar antecipadamente. (At 4.28; Rm 8.29-30; 1Co 2.7; Ef 1.5,11)
            Quando o sentido está voltado para a religião significa determinação antecipada, assim, a doutrina da predestinação esta atrelada a eleição.
            A única diferença é que para o sinergista a eleição se refere ao ato da escolha, enquanto a predestinação diz respeito à finalidade desta escolha.
            É neste sentido que os calvinistas (monergistas) se perdem em não aplicar corretamente o “ato da escolha” com o sentido correto da “finalidade da escolha”.
Enquanto o “ato da escolha” – sign; o momento em que é feito a escolha. (eternidade) (Ef 1.4)
A “finalidade desta escolha” – sign; dar sentido ao escolhido. (que é a humanidade e não uma parte dela)
            Os monergistas podem até questionar a “finalidade da escolha”, mas cabe lembrar que é na presciência de Deus que o Israel antigo foi unificado como Igreja atual. Portanto a escolha (eleição) de Israel agora se concentra na Igreja. (Ef 2.12-14) Recusar esta verdade é procurar viver atrelado as Leis no AT.   
            Finalizo afirmando que as Escrituras nos ensinam que a predestinação de Deus, diz respeito ao plano de salvação para a humanidade. Deve também ficar esclarecido que Deus não quer salvar pecador, nos tornamos transgressores ao desobedecê-lo em Adão e Eva, portanto, já estamos no pecado. Mas, quer nos salvar das garras do pecado que trava o entendimento do pecador (2Co 4.4).
            Somente assim, conseguiremos entender o envio do FILHO como Salvador.
            Eis ai o motivo pelo qual o anjo veio com a finalidade de estabelecer o nome do FILHO. (Mt 1.21)
            Que Deus os abençoe o vos faça entender estas verdades. 

 Bibliografia
T. G. Tappert. Ed. The Book of Concord.
C. Manschreck Melanchthon – The Quiet Reformed
H.L.J. Heppe. Geschichte der Lutherischen Concordienformel and Concordie e Geschichte des deusthschen Protestantisn in den Jehren 1555-1581
G.F. Schot, The Enchlyclopedia of the Lutheran Church; III, 2313-14.
Enciclopédia Histórica-Teológica da Igreja Cristã - Vida Nova – ELWELL, WALTER A.
Agostinho de A a Z – FERREIRA Franklin – Vida – Pag. 179
Agostinho de A a Z – FERREIRA Franklin – Vida – Pag. 178
A Cidade de Deus, 14.27, p. 1318.
Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa 2ª edição Revista e Ampliada – Nova Fronteira – Pags. 1379-1387.
Dicionário Enciclopédico de Teologia - SCHULER, Arnaldo – Ulbra – Pag.370-371.
Dicionário Bíblico Universal – BUCKLAND, A. R. – Vida – paginas diversas.




[1] Ele tem o poder de prever mesmo o que não faz. – Agostinho de A a Z – FERREIRA Franklin – Vida – Pag. 179
[2] Agostinho de A a Z – FERREIRA Franklin – Vida – Pag. 178.  Citando Agostinho, A Cidade de Deus, 14.27, p. 1318.
[3] Não torcerás o juízo, não farás acepção de pessoas, nem tomarás suborno, porquanto o suborno cega os olhos dos sábios e perverte as palavras dos justos.
[4] E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas;

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Que é Sinergismo e Monergismo? - Pr. Themmy Lima


Que é Sinergismo ou Monergismo?  

Pr. Themmy Lima 
É notório entre os cristãos ditos teólogos, professarem sua fé também através dos ensinos pautados na Bíblia Sagrada; Contudo, algumas definições de ordem teológica muitas vezes causam-nos agonia por desconhecerem a profundidade de determinadas palavras ou termos.
Neste artigo apresento a necessidade que o cristão tem de conhecer determinados termos para no momento em que é indagado por uma pessoa poder estar apito a entender a proposta que lhe é oferecida.
Um determinado irmão que expressa sua amizade para comigo (por ética não sito o nome), aconselhou -me posicionar mais solidamente no tocante a minha fé. 

Como se minha fé estivesse pautada somente no que ouço ou leio. 
A proposta foi....Procure "ser mais monergista" de que... Sabe-se lá o que.  
Para o leigo, tal preocupação poderia representar o que chamo carinhosamente de “ajuda humanitária”, cheia de amor e de boa intenção, mas, não é bem isso que o amado amigo queria comigo.
Porque digo isso? - Por que sua suposta ajuda carregava por trás outro intento que procuro apresentar a partir de agora com o intuito de esclarecimento.
Se por um lado me é apresentado o “monergismo”, de outro lado posso concluir haver a existência de um outro lado opositor. E certamente estava certo porque encontramos seu oposto conhecido por “sinergismo”. Logo temos um paralelo de idéias que merecem serem discutidas.
Almejo compartilhar com o leitor a necessidade de quem se propõe ser teólogo de se aprofundar nas terminologias que cercam este cenário, estar familiarizado com palavras que surgem a todo instante no cenário estudantil.
De forma sucinta, porém objetiva apresento o sentido dos termos monergismo e sinergismo a intenção é elucidar as diferenças entre estes dois termos e o perigo que pode causar à fé, dos que os desconhecem.     

Monergismo – Este é o termo que dentro da teologia cristã através de uma subdivisão conhecida por Pnelmatologia (Estudo do Espírito Santo), credita ao Espírito Santo o poder de sozinho atuar no ser humano e propiciar sua conversão. Em suma o monergismo afirma que a salvação emana totalmente de Deus e que o ser humano não tem parceria no processo salvífico.
NOTA*[1]

Sinergismo – Este termo é dentro da teologia cristã o meio pelo qual estabelece a oposição ao “monergismo”, pois, acreditamos que Deus atua parcialmente na salvação partindo DELE a iniciativa, contudo, cabe ao homem aceitar ou recusar a proposta da salvação.  
NOTA*[2]

DEFINIÇÃO DE PARALELISMO – resumidamente defino estes termos da seguinte maneira: O Monergismo – afirma que Deus (Espírito Santo), é quem salva o homem, não cabendo a este ser resistir a salvação, pois uma vez salvo sempre salvo. O Sinergismo – afirma que é Deus (Espírito Santo),quem salva, contudo, o homem pode ou não aceitar a oferta da salvação. A esta aceitação ou recusa chamamos de livre-arbítrio o que é altamente condenável pelos monergistas, afirmando não haver livre-arbítrio na Bíblia. 
O estranho é que a palavra "TRINDADE" , também não aparece na Bíblia, no entanto, eles não negam a existência de um DEUS triuno. A questão então é. Porque uma margem é aceita e outra é recusada. 

Desmembramento de DEFINIÇÃO DE PARALELISMO – A questão é. 
– O homem pode ou não resistir à oferta de salvação?
Quando digo que não.
Então sou monergista por que entendo que Deus estabeleceu que o homem fosse salvo independente das ações e delitos que cometa durante a vida, no fim, será salvo porque Deus decretou uns da sua criação para a salvação e outros para a condenação.
Quando digo que sim.
Então sou sinergista por que não nego ser Deus o SALVADOR da humanidade, contudo, não sofro com a suposta arbitrariedade DIVINA (como acreditam os monergistas), de que Deus tome a decisão por mim; Me renegando o direito de aceitar ou recusar sua oferta de salvação.Independente das minhas ações ou delitos cometidos contra ELE. Ao ato de liberdade fornecido ao homem chamo de amor.

PECADO E PERDÃO – o Monergismo afirma que para determinados pecadores é concedido o perdão quando da morte de Jesus na CRUZ do calvário estando este pecador livre da condenação eterna e automaticamente está garantida sua comunhão com o Espírito SantoEste mover do Espírito Santo torna instantâneo o processo da santificação. Segundo esta linha de pensamento a santificação advém inteiramente de Deus. Para quem acredita nesta linha de pensamento denomina-a por graça irresistível.
Oposição Arminiana (sinergista) – A morte de Cristo no Calvário não foi apenas para um grupo especifico de pessoas conhecidos na presciência de Deus. Outro detalhe é que não faria sentido a morte de Cristo ser pública, não se podendo explicar o texto de (João 3.16). Uma vez que esta morte não seria para todos, mas para alguns e certamente deveria estar presente no ato apenas os que os monergistas chamam de “eleitos”, visto que os demais que não são “eleitos” não fariam o menor sentido presenciarem a morte de Jesus. Seria Deus um masoquista? Creio que os irmãos monergistas também acreditem que não.  

REGENERAÇÃO NA VISÃO MONERGISTA – Nesta linha de pensamento a regeneração é concedida apenas aos que o PAI deu ao FILHO utilizam para isso vários textos como não vou explorá-los todos apresento apenas os que eles mais gostam de citar, os textos são (1Pe 1.3; Jo 6.37-39). 
Esta suposta concessão fornecida por Deus transforma a “alma” (agente atingido na queda), a tornar-se um “SER” ainda que imaterial, tornar-se salvo, por lhe foi concedido a capacitada de atender ao chamado do evangelho. (Jo 1.13). (Mais a frente falarei que o extremismo nem aceita o evangelho)

Oposição Arminiana (sinergista) – O problema destes textos na visão monergista é que não se propõe em nenhum momento classificar apenas pessoas escolhidas a atingirem a salvação através da regeneração, mas ao conhecimento de que a regeneração é possível apenas em Cristo. Por exemplo, em 1Pe 1.3 a palavra “nos gerou de novo” tem o sentido de “vivificar ou trazer nova vida” – o que claramente nos dá entender alterar o modo de vida das pessoas que estavam dispersas no “Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” como afirma o v1 do capítulo. 
Nesta passagem não diz respeito a toda a humanidade (universalismo), mas a regeneração do grupo apresentado que os monergistas acreditam serem os supostos eleitos.
Outro ponto importante está no texto de João 6.37-39 que supostamente foi estabelecido pelo PAI um grupo regenerado pelo Espírito Santo que foi concedido a Jesus, contudo, encontramos um problema.
No v28 é feito uma pergunta à Jesus. 
– “Que faremos para executar as obras de Deus?” 
É a partir deste momento que se estabelece a questão do “pão da vida”, a saber, Jesus.
Neste sentido que os monergista entendem que a expressão “todo aquele” seja uma clara separação de indivíduos para salvação, quando na verdade diz respeito a apenas a alimentação espiritual que aquela pessoas necessitavam. 
A pergunta é: 
Este mesmo pão símbolo do corpo de Jesus; No deserto alimentou a “todos” ou a “alguns”?
Estas são apenas algumas das polemicas existentes nas afirmações monergistas que forçam a doutrina da regeneração ser apenas para alguns previamente escolhidos.

Liberdade x vontade – Se o sentimento de vontade surge em decorrência da liberdade de pensamento, não se pode dizer ser contrária esta afirmativa, uma vez que, a liberdade é quem fornece sentido a existência da vontade; Quando penso ser livre na esperança de ter vontade, me deparo com a liberdade que já possuo em ter a vontade ao meu favor, portanto, numa análise coerente é impossível afirmar que o livre-arbítrio é inexistente na Bíblia. Por que, se o livre-arbítrio não existe logo também não existo, pois, sem o “ser humano” não há existência do sentimento da vontade.   
Esta é certamente uma colcha de retalhos, mas talvez os pontos de vista aqui apresentados não sejam suficientes para creditar ao sinergismo maior veracidade e credibilidade, no intuito de atingir favoravelmente o devido entendimento para a conquista da salvação, mas pelo menos fará com que as pessoas pensem que até mesmo as declarações infundadas dos calvinistas não conseguem anular a responsabilidade humana que o homem possui dentro de si para reagir favoravelmente à iniciativa divina.

CONCLUSÃO DE LIBERDADE  X  VONTADE – Entendo que o sinergismo é base verdadeiro. Mas como chegar a essa forma, já é algo que não é fácil de precisar.       
Vejamos o que um pensador da antiguidade falou.
PELÁGIO – Foi este quem em cerca de (400 d.C.) asseverou que a vontade humana tem total competência para observar a lei de Deus. Ele era homem moral e dotado de férrea vontade, conhecido por sua incomum piedade. Mas errou ao apresentar um sinergismo que fazia com que a salvação estivesse em parte atrelada as obras humanas.


Uma ilustração do artigo XVIII do livre arbítrio, da Confissão de Augsburgo, onde se lê “... uma vontade tem alguma liberdade para escolher justiça civil, e resolver as coisas sujeitas à razão. Mas não tem poder, sem o Espírito Santo, para trabalhar a justiça de Deus, isto é, retidão espiritual...”

TODOS ERRAM – Quando discutimos sinergismo e monergismo não podemos esquecer-nos do que conhecemos atualmente por, semipelagianismo – que ensina que o homem precisa primeiramente preparar-se condignamente para receber a graça divina, exibindo fé, esperança e amor, tudo o que estaria dentro do escopo das capacidades humanas. Esse ensino tornou-se generalizado na idade média e hoje faz parte da doutrina oficial da Igreja Católica Romana.  
Mas não menos errado é o calvinismo extremado, que reduz o homem a nada e pensa que o processo de salvação é automático dispensando a necessidade até da pregação do evangelho. Eles se esquecem que o Evangelho depende da “reação humana favorável”, e fica subentendido que a vontade humana pode corresponder de forma genuína. O calvinismo extremado não reconhece nem mesmo que o crente tem a responsabilidade de reagir favoravelmente à expressa vontade divina.

MOLINISMO – O que vem a ser este termo?
Molinismo é uma doutrina da relação entre a “graça DIVINA” e o “livre-arbítrio” humano, originada pelo jesuíta espanhol Luis de Molina (1535-1600). Molina afirmou que Deus tem um tipo especial como base do gracioso dom divino da salvação. O molinismo foi amplamente adotado pelos jesuítas e confrontado pelos dominicanos. Após o exame de uma congregação especial em Roma (1598-1607), ambas as doutrinas foram permitidas nas escolas católicas.
Obs. Apresentei este ponto de vista apenas para complemento do que entendo ser necessário discutir dentro da visão teologia o sentido de sinergismo e monergismo, considerando que esta doutrina sofreu grandes desajustes teológicos no seu tempo.  

ENTENDENDO A POLARIDADE CRISTÃ – Eis uma necessidade cristã; Entender com urgência o que seja “polaridade”.
Na Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia os filósofos definem o termo “polaridade” também como “conceitos polares”.
Mas, o que vem a ser o termo polaridade?
E de que forma mais apropriada pode ser aplicado a nossa vida diária?
É que este termo quando bem definido nos faz compreender melhor os sentidos e sentimentos opostos ou contrários das nossas necessidades diárias, por exemplo:

ü  Imanência x transcendência
ü  Livre-arbítrio x determinismo  
ü  Pluralidade x unidade
ü  O ideal x o real

DEFNIÇÃO – Polaridade é a qualidade de “ter pólos”, isto é, os dois lados de uma questão.
Só se consegue atingir pontos inteligíveis se os termos forem estudados de forma global, que inclua ambos os pólos de determinada questão.
Sendo que o principio da polaridade ensina-nos que devemos considerar todos os ângulos de um problema, e não somente um ou dois lados do problema.

Só se consegue entender a Soberania Divina quando aceitamos o Livre-Arbítrio humano; Caso contrário a Soberania se torna Tirania ou controladoria.  (Themmy Lima)

A divindade e a humanidade são por excelência um sistema fantástico de polaridade, haja a prova que se por um lado não conseguimos definir Deus em sua essência de igual modo não conseguimos definir o homem em sua essência.   

FILOSOFOS E PENSADORES – Muitos homens do passado registraram suas ideias e pensamentos sobre este assunto, homens como Nicolau de Cusa, Fichte, Hegel, Marx e tantos outros, mas foi em SCHELLING – que encontrei a melhor definição que apresento a seguir.
Deus tem em si mesmo, de modo inerente e necessário, o princípio da polaridade, que se manifesta de diferentes maneiras. Eis a razão pela qual nunca podemos chegar a uma conclusão final a cerca da natureza e das obras de Deus, o qual permanece acima do nosso entendimento. Todas as descrições que podemos oferecer sobre Deus são parciais e inadequadas, e todas maculadas em erro.[3]

Finalizo minhas reflexões observando que o principio da polaridade nos ensina que devemos ser pacientes com problemas complexos e não falarmos alto demais sobre coisas que quase desconhecemos inteiramente.
Por exemplo, qual seria o sentido do julgamento divino se não houvesse livre liberdade de ação (livre-arbítrio), que tipo de justiça poderia ser aplicado? Seria somente baseado na queda de Adão e Eva ou estaria toda a humanidade debaixo de ações pecaminosas. Certamente o certo e errado ganham força no julgamento divino, portanto, livre-arbítrio, estabelecendo-se o sentido da polaridade.  



Bibliografia
Dicionário BÍBLICO Universal – BUCKLAND, A. R. & WILLIANS, LUKYN – VIDA.
Enciclopédia de Apologética – GEISLER, Norman – Vida. Pag. 608       
Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa 2ª Edição Revista e Ampliada – FRONTEIRA.
Novo Dicionário de Teologia – FERGUSON, Sinclair – Hagnos.
R.N.Champlin, Ph. D. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia Volume 4 M/O – Hagnos.
R.N.Champlin, Ph. D. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia Volume 5 P/R – Hagnos.
R.N.Champlin, Ph. D. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia Volume 6 S/Z  - Hagnos.




[1] Essa palavra faz parte do vocabulário radical do agostinianismo e do calvinismo. Afirma que a REGENERAÇAO depende, totalmente, das operações do Espírito Santo onde a vontade humana torna-se totalmente passiva, durante todo o processo da regeneração. (Enc. De Bíblia Teol. E Filosofia – Vol. 4 M/O – Pag. 344 – Hagnos)
[2] Essa palavra vem do termo grego composto que significa “trabalhar junto com”. NO contexto, teológico essa palavra significa que a salvação do indivíduo é o resultado final de um esforço cooperativo com Deus.  (Enc. De Bíblia Teol. E Filosofia – Vol. 6 S/Z – Pag. 233 – Hagnos)
[3] R.N.Champlin, Ph. D. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia Volume 5 P/R. Pag. 315 tópico Idéias dos Filósofos sobre a Polaridade.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

A BÍBLIA É INERRANTE OU INFALÍVEL? - Roger Olson

A BÍBLIA É INERRANTE OU INFALÍVEL?

Pelo Dr. Roger Olson
Atestado por: Pr. Themmy Lima
Recentemente me pediram para explicar a diferença entre inerrância bíblica e infalibilidade bíblica. Afirmo a infabilidade da Bíblia, mas nego sua inerrância. A explicação completa daria um livro, então esse será um breve resumo da explicação.

Compreender a diferença entre os dois conceitos, ao menos como eu entendo, requer compreender a diferença entre duas interpretações da inspiração da Bíblia. Alguns teólogos evangélicos (e outros) afirmam que a inspiração (theopneustos) refere-se às palavras da Bíblia – que elas são de alguma forma “expiradas” por Deus. Na verdade, isto é uma metáfora, mas a questão é que para eles a inspiração bíblica mencionada em 2 Timotéo 3:16 refere-se às próprias palavras da Escritura. Outros teólogos evangélicos (e outros) afirmam que a inspiração refere-se aos autores humanos da Escritura. Em outras palavras, 2 Timotéo 3:16, especialmente à luz de 2 Pedro 1:21, expressa o processo pelo qual o Espírito Santo expirou nos autores da Bíblia as ideias que o Espírito queria que eles tivessem e comunicassem. 

Assim, em suma, há uma subjacente diferença de opinião entre teólogos acadêmicos quanto a inspiração e como a mesma trabalhou produzindo a Escritura. A primeira opinião, que enfatiza a inspiração das palavras, é conhecida como “inspiração verbal plenária.” O segundo ponto de vista, que enfatiza a inspiração dos autores, é conhecida como “inspiração dinâmica.” Os defensores da inspiração dinâmica argumentam que a inspiração verbal plenária não pode ser distinguida do ditado divino e que não explica, por exemplo, desejos ofensivos do Apóstolo Paulo que seus oponentes Judaizantes nas igrejas da Galácia fossem cortados (Gálatas 5:12) ou os Salmos imprecatórios. Que também não pode explicar as frases inacabadas de Paulo. Em outras palavras, de acordo com os partidários da inspiração dinâmica, o fenômeno da Escritura não dá apoio à inspiração verbal plenária.

Muitos, não todos, defensores da inspiração verbal plenária também afirmam a inerrância da Bíblia, mas apenas nos autógrafos originais – que já não existem (até onde se sabe). Eles reconhecem que existem erros, discrepâncias nos melhores manuscritos e em todas as Bíblias conhecidas. Outros argumentam que estes não são erros verdadeiros e que eventualmente serão explicados e que, nesse ínterim, devemos desconsiderá-los e aguardar por mais esclarecimentos obtidos dos estudos bíblicos. O The Chicago Statement on Inerrancy, produzido pelo International Council on Biblical Inerrancy, liderado dentre outros por James Montgomery Boice (que foi meu professor de homilética no seminário e pastor da Tenth Presbyterian Church of Philadelphia) atestou a “inerrância bíblica.” Muitos de nós, teólogos evangélicos estudiosos da Bíblia, consideram suprimir a inerrância, de forma que no Statement, “inerrância” não seja mais o termo para se referir a exatidão da Escritura. Em outras palavras, acreditamos que seu sentido e significado comum, aquilo que a maioria das pessoas modernas pensam do que significa “inerrância”, seja diferente até mesmo do que os autores e signatários do Statement quiseram dizer. Além disso, muitos evangélicos conservadores que defendem a inerrância bíblica admitem que somente os autógrafos originais, os manuscritos produzidos por exemplo, pelos profetas e apóstolos, eram inerrantes. Aqueles de nós que têm dificuldades com a palavra “inerrância” para com a exatidão e autoridade da Bíblia, se preocupam, sendo o caso, como dizem os defensores da inerrância – que a autoridade bíblica exige inerrância bíblica – assim sendo, nenhuma Bíblia é autoritativa. É uma questão lógica.

A The National Association of Evangelicals Statement of Faith não afirma a inerrância Bíblica; ela afirma a infabilidade bíblica – por justa razão. Para muitos dos fundadores, especialmente aqueles na tradição Wesleyana, não ancorados teologicamente no escolatiscismo Reformado da Old School Princentonn Theology (ex., Francis Turrentin, Charles Hodge e Benjamin Breckenridge Warfield), a inerrância não era uma vaca sagrada e raramente era usada para descrever a autoridade e exatidão da Bíblia. Assim, o Statement of Faith afirma a infabilidade da Bíblia – um termo mais amplo que todos os evangélicos podem afirmar. Para a maioria das pessoas, pessoas nos bancos e muitos púlpitos, a “inerrância bíblica” significa algo que até mesmo seus estudiosos bíblicos e teólogos não tencionam dizer. Mas eles não sabem disso. Elas, as pessoas nos bancos e púlpitos, pensam que “inerrância” significa que nossas melhores traduções da Bíblia, ou ao menos os melhores textos da Bíblia em línguas originais, não contém nenhum erro ou discrepâncias de qualquer tipo. Por trinta e oito anos tenho por hábito ler para os alunos de teologia as designações de “inerrância” expressas no Chicago Statement e nos livros textos de proeminentes teólogos evangélicos conservadores e peço para eles comentá-los. (Um proeminente teólogo evangélico conservador diz que a “inerrância bíblica” é compatível com “o uso inerrante de fontes errantes” por autores bíblicos!). Os alunos quase escarneceram da pessoa que definiu “inerrância” com essa expressão quando foi assim descrita. Eles afirmam que esta – “inerrância” como explicada e qualificada pelo Chicago Statement e por lideranças acadêmicas evangélicas conservadoras e teólogos – não é o que seus pastores, pais, professores de Escola Bíblica Dominical os ensinaram sobre “nossa Bíblia inerrante”. O que foi ensinado a eles é que “inerrância” significa que não há discrepâncias de qualquer tipo nas Bíblias que temos hoje – desde que sejam boas traduções.

O problema que aponto aqui é que existe uma tremenda diversidade de opiniões entre os evangélicos conservadores a respeito da “inerrância bíblica”. Um ponto divergente é aquele entre os acadêmicos evangélicos conservadores que afirmam e defendem o conceito e seus próprios leitores. Suspeito que, se os leitores realmente soubessem o que seus próprios acadêmicos evangélicos conservadores e teólogos realmente querem dizer por “inerrância bíblica” eles ficariam chocados e desolados. 

E ainda, até mesmo entre os acadêmicos evangélicos conservadores de mais alto nível e teólogos, não há entendimento uniforme sobre “inerrância bíblica.” As definições, descrições e qualificações variam enormemente entre eles. Uma vez enviei a Carl F. H. Henry, o “decano dos teólogos evangélicos” e forte defensor da inerrância bíblica, uma cópia de um ensaio de duas páginas definindo “inerrância bíblica” escrito (não copyrighted) por um outro bastante conhecido teólogo evangélico conservador. Não mencionei o nome dele; simplesmente pedi a Henry se ela achava adequado. Ele respondeu (e eu ainda guardo sua carta) que não é adequada. E ambos eram membros com boa reputação na Evangelical Theological Society que exige para afiliação em seus quadros que seus membros afirmem a inerrância bíblica! 

Então o que significa “infabilidade bíblica” e como se difere da “inerrância bíblica?” Eu compreendo que alguns filósofos evangélicos argumentam que elas são linguisticamente idênticas; eu discordo. Anos atrás, lembro (eu não tenho mais o livro) que li um livro de um teólogo-acadêmico evangélico Reformado chamado Harry R. Boer com o título Above the Battle: the Bible and its Critics publicado em 1977 – um ano após o livro bomba de Harold Lindsell The Battle for the Bible ter sido publicado. (Lindsell argumentou que a afirmação da inerrância bíblica é necessária para a autêntica fé evangélica – algo que até mesmo Carl Henry negou!) Boer, eu lembro, foi o primeiro teólogo que conheci (enquanto eu estava no seminário) que diferenciou inerrância bíblica e infabilidade bíblica. Desde então tenho lido outros.

Quando digo que a Bíblia é “infalível” eu quero dizer que ela não pode falhar em comunicar a verdade de que precisamos de Deus para sermos salvos e transformados. Quero dizer que é a única mensagem inspirada de Deus para a humanidade que infalivelmente revela a identidade de Deus, caráter e vontade e caminho para a salvação. “Infalível” significa “incapaz de falhar”. Em outras palavras, para mim, quando eu digo que a Bíblia é “infalível”, eu quero dizer que ela é “perfeita com respeito ao propósito”. John Piper, em um ensaio que pode ser acessado em seu web site, define inerrância desse modo – como “perfeita com respeito ao propósito.” Eu acho que esta não é uma boa definição ou descrição de inerrância. Inerrância implica muito mais que isso – pelo menos para a pessoa no banco. Acho que minha opinião sobre a autoridade e exatidão da Escritura não é muito diferente da de muitos evangélicos conservadores que afirmam e defendem a “inerrância bíblica!” A nossa diferença (naqueles casos) tem a ver com semântica. Penso que “inerrância” comunica uma ideia da Bíblia que não é verdadeira quanto ao seu real fenômeno e a maioria dos evangélicos conservadores sabem disso e assim eles  designam “inerrância” a morte enquanto insistem na palavra como um tipo de chibolete para decidir quem está “com” e quem “está fora” do seus círculo de evangélicos.  A ironia é que até mesmo dentro do círculo aprovado por eles existe tremenda diversidade de opiniões a respeito do que “inerrância” significa!

Alguns anos atrás, eu troquei uma longa série mensagens de e-mails com o decano de um seminário evangélico muito conservador. Como isso aconteceu é para mim uma anedota. O então presidente da ETS me convidou para falar na sessão plenária da assembleia anual nacional da ETS que aconteceria no ano seguinte. Após lhe explicar que eu nunca havia sido membro do ETS e que não afirmava a inerrância bíblica, mas que eu afirmava a inspiração e a infabilidade, ele, mesmo assim, fez-me o convite. Eu aceitei. Então, passei a receber dele mensagens de e-mails que ele enviava para o comitê executivo do ETS – cuja a maioria dos membros eu conheço. Eles, os membros do comitê executivo, não notaram que o presidente incluiu meu endereço de e-mail entre os deles nessas trocas de mensagens. Ele anunciou que eu falaria na plenária do próximo congresso nacional do ETS. Os membros do comitê,  responderam a mensagem do presidente com “responder a todos”, não notando que eu estava entre os “todos”, e protestaram contra o convite do presidente – alegando que eu, dentre outras coisas, sou um “Barthian” e não um verdadeiro evangélico, etc. Alguns de seus comentários a meu respeito eram inverídicos e injustos. Um dos mais agressivos foi de um membro do Wheaton College. Meu antigo colega e decano da faculdade e seminário onde eu havia ensinado foi outro que falou somente coisas ásperas sobre mim e minha orientação teológica. Então, eu teclei “responder a todos” e desafiei o que eles diziam a meu respeito. É claro, eu fui imediatamente removido da lista de correspondentes. Apenas um membro do comitê, o então vice-presidente e presidente-eleito do ETS, continuou a conversa comigo. Ao final de uma longa série de e-mails a respeito da autoridade e exatidão bíblica, nós concordamos que acreditamos nas mesmas coisas sobre autoridade e exatidão bíblica. Nosso único desacordo foi se “inerrância” é o termo correto para o que nós dois acreditamos. Então eu perguntei para ele se eu poderia me juntar ao ETS, considerando que ele, vice-presidente e futuro presidente, e eu concordamos com a exatidão e autoridade da Bíblia. Ele disse não. Para mim aquilo provou que “inerrância” é, entre a maior parte dos acadêmicos e teólogos evangélicos, um mero chibolete, um “vigilante de portão”. (Nota: o convite foi retirado pelo presidente da ETS a pedido do comitê executivo.)

Agora um nível mais profundo de descrição teológica que necessariamente envolve um grau de especulação. Eu passei a acreditar que a diferença mais marcante entre os evangélicos a respeito da Bíblia, levando alguns a brigar pela palavra “inerrância” a ponto de dividir os evangélicos, tem a ver com as diferentes percepções do propósito da Bíblia. Alguns evangélicos conservadores parecem ver o principal propósito da Bíblia como um comunicado informativo. É para eles, seguindo a opinião de Charles Hodge, “dados brutos” que a teologia sistemática deve explorar. “Revelação” para Carl Henry e para muitos evangélicos conservadores, é um “evento mental.” Deles tenho a noção que a Bíblia não é – ainda - uma teologia sistemática-sistematizada e logo que a correta teologia sistematizada for criada, o uso da Bíblia seja apenas para leitura devocional e prova de texto. Suspeito, embora ache que eles negariam isso, que para muito deles uma teologia sistemática correta apenas diz o que a Bíblia diz e cumpre totalmente o seu propósito, de forma que a Bíblia em si mesma não possui mais nenhum valor. A correta e completa teologia sistemática substitui a Bíblia ou é a Bíblia – apenas organizada de forma diferente.

Outros evangélicos, e eu me incluo entre eles, enxerga o propósito da Bíblia como transformação espiritual – nos levando para a comunhão da salvação com Deus. Ela funciona infalivelmente como único meio inspirado por Deus, instrumento de revelação da identidade, caráter e vontade de Deus para nós com o propósito de transformar nossas vidas. Sim, ela contém informações, mas também sempre tem “nova luz” para lançar enquanto o Espírito Santo a usa e junto com nossa fé para continuamente transformar-nos à imagem de Jesus Cristo. Implica em doutrinas, mas não é um livro de doutrinas. Criamos doutrinas baseadas nela, mas para refutar usos indevidos da Escritura por heréticos e fanáticos, porém ela não é essencialmente destinada a ser um manual de doutrinas. É principalmente destinada a ser uma grande História, um “teodrama” na qual Deus é o personagem principal, que pode nos levar a comunhão de transformação com Deus. 

“infabilidade” como descrito acima, “perfeita com respeito ao propósito”, serve melhor para a compreensão da Bíblia do que “inerrância.” Se a Bíblia contém alguns erros, algumas discrepâncias, eles não afetam o seu poder de transformar vidas por meio da fé plena na comunhão com Deus, isso não é importante.

Tradução: Márcia Elias
Fonte: http://l.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fwww.patheos.com%2Fblogs%2Frogereolson%2F2015%2F11%2Fis-the-bible-inerrant-or-infallible%2F&h=ZAQElAUy9

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