O que é Sinergismo e
Monergismo – Parte. 2
Pastor Themmy Lima
Em decorrência da necessidade
existente entre o mercado literário e o que se publica neste mercado, surge uma
pequena, mas poderosa “gota” d’água num oceano vasto e complexo, contudo, uma
nota sobre esta importante vertente da teologia chamada de Sinergismo e do seu
parente o Monergismo; É que aparece reflexão sobre este assunto pouco
explorado pelos teólogos do nosso tempo.
Resolvi escrever um artigo sobre o
assunto, publicado no Blog. Mundo Teológico em que sou o precursor, após a
leitura muitos amigos ou leitores pediram para abordar com mais amplitude o
assunto.
Foi então que resolvi apresentar com
maior abrangência as diferenças sobre esta necessidade que o meio teológico
carece.
os meninos
estão atrapalhando a igreja
A começar pelo que chamo de “meninos”,
estão na pauta das igrejas atuais, este é um problema que se instaurou no meio
cristão, principalmente no meio pentecostal conservador, este problema é
decorrente da má instrução fornecida aos membros que num futuro muito próximo
ou precoce irão aspirar ao episcopado, porém não como sugere a Bíblia.
É comum principalmente no meio
pentecostal, surgir os “meninos”, taxados por pregadores, iniciam
a caminhada lendo livros sem o real teor que pactua com o ministério que
congrega.
Estas indicações geralmente ocorrem
por pessoas que já possuem alicerce teológico, mas contrário ao ministério do “menino”
o resultado é catastrófico.
Serei mais claro – os monergistas
estão por ai indicando livros de Soteriologia para jovens pentecostais o que
tem acarretado uma demanda sensível, mas constante cada vez maior para a
doutrina monergista.
A pergunta então é.
Por quê?
A resposta ao problema é extensa e
complexa, mas de forma objetiva.
Porque,
não formamos pastores preparados para doutrinar a Igreja.
Cristo se preocupou com este
problema tanto que deu a Igreja mestres ou doutores (Ef 4.11), mas o
pentecostalismo tem tomado o lugar do conhecimento.
A Igreja de Cristo merece ser
doutrinada pela Sã Doutrina, ela merece esse apresso, mesmo porque, nossos
jovens estão com uma gana de informação cada vez maior, os jovens de hoje não
são os jovens de trinta anos atrás.
O que o pastor Sinergista não fizer os
monergista irão fazer.
EU PREGO BEM..... – Destacar-se por uma boa eloqüência não pode e nem deve
ser fator preponderante para elevar um “garoto ou menino” ao santo
ministério. Só por lhe aplicar o jargão “Deus está usando”. Lembremos o que
está na Bíblia ao surgir a necessidade de ministros na Igreja o Espírito Santo
destacou para o bem da Igreja a seguinte ordem. “Escolhei,
pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito
Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra.” (At 6.3-4)
Como podemos observar o ministério
da palavra requer oração e maturidade para uma boa exposição, não uma enxurrada
de livros e mais livros.
Não que isso seja errado, pelo
contrário é excelente e principalmente bíblico, mas tudo tem seu tempo, mais
especificamente o que disse o sábio. “tempo de
rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar;” (Ec 3.7)
Eis
o motivo pelo qual encontramos tantos desencontros nos púlpitos das Igrejas
Pentecostais, erro que não acontece tanto nos púlpitos de igrejas conservadoras
como Batista ou Presbiteriana que são monergistas.
Pregar bem, ter boa eloqüência e
desenvoltura acadêmica, não é sinônimo de ministério, eis aí o motivo de tanta
fraqueza espiritual em nossos púlpitos, muitos livros e poucas orações,
justamente o que marcou a Assembléia de Deus, a dependência do Espírito Santo.
Vale lembrar que os monergistas
afirmam depender do Espírito Santo, mas nega sua eficácia na prática, olham
para os pentecostais pelos bastidores como “meninos”.
INFORMação x
preparação
Algumas necessidades são urgentes e
necessárias no meio pentecostal uma delas talvez a mais urgente seja a
informação seguida pela boa preparação, visando alcançar a perfeição ou no
mínimo minimizar erros grosseiros. Visto que uma boa preparação só ocorre
quando há uma informação sólida e precisa.
A informação está
errada – é cada dia mais
notório a enxurrada de livros que surgem no mercado literário principalmente no
cenário evangélico, mas nenhum surge como meio de instrução adequada. Por
incrível que pareça quem faz isso com perfeição são os neopentecostais com
livros específicos de “auto-ajuda”.
Em decorrência dessa falha é cada
vez maior se deparar com pessoas que procuram livros inadequados para suas
necessidades reais. Não temos neste sentido líderes que instruam a igreja que
está aos seus cuidados a adquirirem livros adequados há seu tempo e realidade.
Vou citar algumas aberrações que presenciei,
trabalhando como consultor teológico, não poucas foram às vezes que me deparei
com jovens pentecostais procurando a Bíblia de Genebra.
Com habilidade de consultor consegui
formular a pergunta necessária.
Você é calvinista?
Inevitavelmente a resposta era.
Não.
Neste momento estabelecia a segunda
pergunta.
Porque quer adquirir esta Bíblia?
As respostas variavam de pessoa para
pessoa.
(1)
Indicaram-me.
(2)
Acho
o nome bonito.
(3)
Preciso
de uma bíblia para ir a Igreja.
E por ai a fora.
Tão logo começava informar que aquela Bíblia contradizia a
fé e a doutrina Pentecostal e os ensinos do Espírito Santo em que cremos e aos
princípios do pensamento Arminiano, eles desistiam, de adquirir aquele exemplar.
Um jovem sem instrução adequada com uma Bíblia destas nas
mãos faltar-lhe-ia pouco para tornar-se um “monergista”.
A falta de instrução é tão grande
que não é estranho que pessoas tidas por “pentecostais” adquiriram um
Dicionário muito famoso intitulado VINE, instrumento altamente recomendável ao
publico lingüista que domina o idioma hebraico e grego.
É certamente uma poderosa ferramenta
de estudo nas mãos de pessoas qualificadas, mas uma bomba atômica nas mãos de
pessoas que não possuam as qualificações necessárias para utilização.
O que tornaria contraditório o
pensamento “sinergismo”.
ESCLARECENDO O QUE É NECESSÁRIO
A INFORMAÇÃO DEVE SER CLARA – No primeiro trabalho feito sobre o Monergismo e
Sinergismo não procure a bordar de forma etimológica as palavras que trazem
nossa reflexão, mas devido ao esclarecimento que pontuo nesta seqüência reflexiva
creio ser adequado opinar por este esclarecimento.
SOBRE A PALAVRA SINERGISMO – esta palavra vem do Gr. sunergos = cooperação. Uma doutrina da cooperação entre Deus e os
homens. Posto o esclarecimento do termo se algum “monergista” se atrever a
negar o sinergismo estará diretamente dando um tiro no pé.
O SENTIDO DO SINERGISMO – O sentido do sinergismo é procurar conciliar duas
verdades paradoxais:
(1)
A
Soberania de Deus – Que em nenhum momento é negada pelo sinergista.
(2)
A
responsabilidade moral humana – Que biblicamente não pode ser descartada.
Em nenhum local estas vertentes SOBERANIA
x responsabilidade se entrelaçam
mais fortemente de que na conversão do pecador, porque mesmo que o calvinismo
extremado afirme que o homem nem precise da pregação do evangelho por já estar
eleito para salvação, ainda assim, seja necessária a existência do homem para
haver concretização da Soberania Divina.
Portanto, Como conseguiriam explicar
isso?
Lutero
em seu catecismo maior escreve:
Creio que não posso, pelo meu próprio raciocínio ou
força, crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem chegar a Ele. Mas, o Espírito
Santo chamou-me através do evangelho, iluminou-me com Seus dons, e me
santificou e me conservou na fé verdadeira
|
Erasmo disse:
O livre- arbítrio é o poder de aplicar-se a graça
|
Uma
pergunta me sobe ao coração referente a graça; Como seria possível aceitar a
graça se não houvesse o livre-arbítrio?
Muitas vezes o monergismo procura
esconder as verdades do sinergismo talvez, com medo que sua estrutura
caia por terra e apareçam suas falhas grotescas quanto à doutrina da salvação.
Partamos do sentido primário da
palavra “salvação” – se salvação é
atribuir a alguém que esteja em perigo, logo não pode ser aplicado a apenas
para uma parte da humanidade que esteja em perigo, mas senão toda ela. Se for
contrário a isso tornamos Deus injusto, porque procurar salvar apenas uma parte
e outra não, utilizando para isso sua Soberania.
Contradizer um dos atributos Divino a
unibenevolência, (em que está inserido seu amor), para com todos surge o texto
de Tito. (TT 2.11)
Outro detalhe que complica os
calvinistas (monergistas) é em relação a quantidade de salvos, em nenhum
lugar da Bíblia encontramos percentuais para salvação; No pensamento calvinista
este percentual supostamente esteja determinado apenas aos eleitos, portanto,
por inferência podemos nós sinergistas afirmar que esta
salvação está disponível para 100% da humanidade, ainda que o percentual de
aceitação seja desconhecido da humanidade cabendo exclusivamente a Deus.
A isto, chamo de Presciência.
Pouca gente sabe, mas durante a
reforma feita por Lutero ocorreu uma controvérsia sinergista. Os estudiosos
debatem se Philip Melanchthon foi sinergista. É certo que escreveu que “o homem
é totalmente incapaz de praticar o bem” e que nas “coisas externas” (questões
seculares) há livre arbítrio, mas não nas “coisas internas” (questões espirituais).
Na segunda edição da sua obra Loci, (publicada em 1535), Melanchthon escreveu
que na conversão: “Três causas operam em conjunto:”
(1) a
Palavra,
(2) o
Espírito Santo,
(3) e a
vontade, (não totalmente inativa),
Mas resistindo a sua própria
fraqueza... Deus atrai, mas atrai aqueles que estão dispostos... E a vontade
não é uma estátua, e aquela emoção espiritual não é cunhada sobre ela como se
ela fosse uma estátua”.
Presciência –
mito ou realidade
O calvinismo aponta a presciência
Divina como sendo ELEIÇÃO, ainda que esta seja uma doutrina bíblica há de se
definir o correto sentido da palavra para entender o contexto em que ela é
aplicada.
Sem entrar no mérito merecido do que
venha ser a “eleição” (ato de escolha),
vale lembrar que qualquer tipo de eleição está
inserido na presciência de Deus, pois ELE antevê até mesmo o que não ira [1]realizar.
Escolher, portanto, não pode estar
aplicado única e exclusivamente ao principio da salvação, porque a soteriologia
é muito mais ampla do que a mente humana pode alcançar. Mesmo o porquê “[2]Quem se atreve pensar ou afirmar que não
esteve no poder de Deus impedir a queda do ajo e do homem? Preferiu, todavia,
não lhes retirar esse poder, e demonstrar assim de quanto mal era capaz a
soberba deles e de quanto bem era capaz a sua graça.”
Conquanto conhecer o sentido real da
palavra pode trazer luz à má influência fornecida pelos monergistas trazendo
sólida reflexão ao cristão no seu propósito de adoração.
Procuro apresentar o que entendo ser
a correta definição para “presciência”.
Inicialmente deve-se dividir a palavra
em duas partes:
Pre
|
ciência
|
Pré – Anterioridade referindo-se ao preparo de algo ou do
que está antes do início.
Em sentido teológico prever antecipadamente.
(previsão)
Ciência – Do Lat. Scientia refere-se ao conhecimento rigoroso e racional de qualquer
assunto.
Podemos definir que presciência seja
de forma objetiva “algo que está antes
do inicio dentro do conhecimento racional de qualquer assunto”, portanto,
alheio a capacidade humana de antever o futuro, não cabendo ao humano tentar
definir o que Deus não nos revelou. Supor que Deus tenha escolhido alguns para
salvação e outros para condenação é no mínimo infame e irreal.
Uma vez apresentado o sentido lato
da palavra.
Como entender a falácia dos
calvinistas sobre a dupla predestinação?
Segundo esta linha de pensamento uns
(seres humanos), são melhores que outros até que Deus venha separar os que com
ELE ficarão. Até este ponto podemos aceitar como correto o incorreto é tentar
fazer-nos aceitar que é Deus quem estabeleceu o erro de uns e o acerto para
outros. Contradiz as Escrituras que afirmam que Deus não faz acepção de
pessoas, ou seja, tratamento desigual de pessoas, com favoritismo, parcialidade
e injustiça. ([3]Dt
16.19; [4]At
10.34)
Predestinação
uma realidade deturpada
Ainda que a presciência de Deus
esteja incutida na Bíblia ela é mais forte ao apontar para a “predestinação”, o
termo grego “proorizo” diz-nos
sentido totalmente diferente do que propõe os monergistas, ela procura dizer
que Deus estabelece o ato de limitar ou determinar antecipadamente. (At 4.28;
Rm 8.29-30; 1Co 2.7; Ef 1.5,11)
Quando o sentido está voltado para a
religião significa determinação antecipada, assim, a doutrina da predestinação
esta atrelada a eleição.
A única diferença é que para o sinergista
a eleição
se refere ao ato da escolha, enquanto a predestinação diz
respeito à finalidade desta escolha.
É neste sentido que os calvinistas (monergistas)
se perdem em não aplicar corretamente o “ato da escolha” com o sentido correto da
“finalidade da escolha”.
Enquanto o
“ato da escolha” – sign; o momento em que é feito a escolha. (eternidade)
(Ef 1.4)
A “finalidade
desta escolha” – sign; dar sentido ao escolhido. (que é a humanidade e não
uma parte dela)
Os monergistas podem até questionar a
“finalidade da escolha”, mas cabe lembrar que é na presciência de Deus que o
Israel antigo foi unificado como Igreja atual. Portanto a escolha (eleição) de
Israel agora se concentra na Igreja. (Ef 2.12-14) Recusar esta verdade é procurar
viver atrelado as Leis no AT.
Finalizo afirmando que as Escrituras
nos ensinam que a predestinação de Deus, diz respeito ao plano de salvação para a
humanidade. Deve também ficar esclarecido que Deus não quer salvar pecador, nos
tornamos transgressores ao desobedecê-lo em Adão e Eva, portanto, já estamos no
pecado. Mas, quer nos salvar das garras do pecado que trava o entendimento do
pecador (2Co 4.4).
Somente assim, conseguiremos entender
o envio do FILHO como Salvador.
Eis ai o motivo pelo qual o anjo veio
com a finalidade de estabelecer o nome do FILHO. (Mt 1.21)
T. G. Tappert. Ed.
The Book of Concord.
C. Manschreck Melanchthon
– The Quiet Reformed
H.L.J. Heppe.
Geschichte der Lutherischen Concordienformel and Concordie e Geschichte des
deusthschen Protestantisn in den Jehren 1555-1581
G.F. Schot, The
Enchlyclopedia of the Lutheran Church; III, 2313-14.
Enciclopédia Histórica-Teológica da Igreja Cristã - Vida Nova
– ELWELL, WALTER A.
Agostinho de A a Z – FERREIRA Franklin – Vida – Pag. 179
Agostinho de A a Z – FERREIRA Franklin – Vida – Pag. 178
A Cidade de Deus, 14.27, p. 1318.
Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa 2ª edição Revista e
Ampliada – Nova Fronteira – Pags. 1379-1387.
Dicionário Enciclopédico de Teologia - SCHULER, Arnaldo – Ulbra – Pag.370-371.
Dicionário Bíblico Universal – BUCKLAND, A. R. – Vida – paginas diversas.
[1]
Ele tem o poder de prever mesmo o que não faz. – Agostinho de A a Z – FERREIRA Franklin
– Vida – Pag. 179
[2]
Agostinho de A a Z – FERREIRA Franklin – Vida – Pag. 178. Citando Agostinho, A Cidade de Deus, 14.27,
p. 1318.
[3] Não torcerás o juízo, não farás acepção de
pessoas, nem tomarás suborno, porquanto o suborno cega os olhos dos sábios e
perverte as palavras dos justos.
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