terça-feira, 25 de outubro de 2016

O que é Sinergismo e Monergismo – Parte. 2 Pr. Themmy Lima

O que é Sinergismo e Monergismo – Parte. 2
Pastor Themmy Lima
            Em decorrência da necessidade existente entre o mercado literário e o que se publica neste mercado, surge uma pequena, mas poderosa “gota” d’água num oceano vasto e complexo, contudo, uma nota sobre esta importante vertente da teologia chamada de Sinergismo e do seu parente o Monergismo; É que aparece reflexão sobre este assunto pouco explorado pelos teólogos do nosso tempo.
            Resolvi escrever um artigo sobre o assunto, publicado no Blog. Mundo Teológico em que sou o precursor, após a leitura muitos amigos ou leitores pediram para abordar com mais amplitude o assunto.
            Foi então que resolvi apresentar com maior abrangência as diferenças sobre esta necessidade que o meio teológico carece.

os meninos estão atrapalhando a igreja
            A começar pelo que chamo de “meninos”, estão na pauta das igrejas atuais, este é um problema que se instaurou no meio cristão, principalmente no meio pentecostal conservador, este problema é decorrente da má instrução fornecida aos membros que num futuro muito próximo ou precoce irão aspirar ao episcopado, porém não como sugere a Bíblia.
            É comum principalmente no meio pentecostal, surgir os “meninos”, taxados por pregadores, iniciam a caminhada lendo livros sem o real teor que pactua com o ministério que congrega.
            Estas indicações geralmente ocorrem por pessoas que já possuem alicerce teológico, mas contrário ao ministério do “menino” o resultado é catastrófico.
            Serei mais claro – os monergistas estão por ai indicando livros de Soteriologia para jovens pentecostais o que tem acarretado uma demanda sensível, mas constante cada vez maior para a doutrina monergista.
            A pergunta então é.
            Por quê?
            A resposta ao problema é extensa e complexa, mas de forma objetiva.
            Porque, não formamos pastores preparados para doutrinar a Igreja.
            Cristo se preocupou com este problema tanto que deu a Igreja mestres ou doutores (Ef 4.11), mas o pentecostalismo tem tomado o lugar do conhecimento.
            A Igreja de Cristo merece ser doutrinada pela Sã Doutrina, ela merece esse apresso, mesmo porque, nossos jovens estão com uma gana de informação cada vez maior, os jovens de hoje não são os jovens de trinta anos atrás.
            O que o pastor Sinergista não fizer os monergista irão fazer.

EU PREGO BEM..... – Destacar-se por uma boa eloqüência não pode e nem deve ser fator preponderante para elevar um “garoto ou menino” ao santo ministério. Só por lhe aplicar o jargão “Deus está usando”. Lembremos o que está na Bíblia ao surgir a necessidade de ministros na Igreja o Espírito Santo destacou para o bem da Igreja a seguinte ordem. “Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra.” (At 6.3-4)
            Como podemos observar o ministério da palavra requer oração e maturidade para uma boa exposição, não uma enxurrada de livros e mais livros.
            Não que isso seja errado, pelo contrário é excelente e principalmente bíblico, mas tudo tem seu tempo, mais especificamente o que disse o sábio. “tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar; (Ec 3.7)
            Eis o motivo pelo qual encontramos tantos desencontros nos púlpitos das Igrejas Pentecostais, erro que não acontece tanto nos púlpitos de igrejas conservadoras como Batista ou Presbiteriana que são monergistas
            Pregar bem, ter boa eloqüência e desenvoltura acadêmica, não é sinônimo de ministério, eis aí o motivo de tanta fraqueza espiritual em nossos púlpitos, muitos livros e poucas orações, justamente o que marcou a Assembléia de Deus, a dependência do Espírito Santo.
            Vale lembrar que os monergistas afirmam depender do Espírito Santo, mas nega sua eficácia na prática, olham para os pentecostais pelos bastidores como “meninos”.  

INFORMação x preparação  
            Algumas necessidades são urgentes e necessárias no meio pentecostal uma delas talvez a mais urgente seja a informação seguida pela boa preparação, visando alcançar a perfeição ou no mínimo minimizar erros grosseiros. Visto que uma boa preparação só ocorre quando há uma informação sólida e precisa.
           A informação está errada – é cada dia mais notório a enxurrada de livros que surgem no mercado literário principalmente no cenário evangélico, mas nenhum surge como meio de instrução adequada. Por incrível que pareça quem faz isso com perfeição são os neopentecostais com livros específicos de “auto-ajuda”. 
            Em decorrência dessa falha é cada vez maior se deparar com pessoas que procuram livros inadequados para suas necessidades reais. Não temos neste sentido líderes que instruam a igreja que está aos seus cuidados a adquirirem livros adequados há seu tempo e realidade.
            Vou citar algumas aberrações que presenciei, trabalhando como consultor teológico, não poucas foram às vezes que me deparei com jovens pentecostais procurando a Bíblia de Genebra.
            Com habilidade de consultor consegui formular a pergunta necessária.
            Você é calvinista? 
            Inevitavelmente a resposta era.
            Não.
            Neste momento estabelecia a segunda pergunta.
            Porque quer adquirir esta Bíblia?
            As respostas variavam de pessoa para pessoa.
(1)   Indicaram-me.
(2)   Acho o nome bonito.
(3)   Preciso de uma bíblia para ir a Igreja.

E por ai a fora.
Tão logo começava informar que aquela Bíblia contradizia a fé e a doutrina Pentecostal e os ensinos do Espírito Santo em que cremos e aos princípios do pensamento Arminiano, eles desistiam, de adquirir aquele exemplar.
Um jovem sem instrução adequada com uma Bíblia destas nas mãos faltar-lhe-ia pouco para tornar-se um “monergista”.
            A falta de instrução é tão grande que não é estranho que pessoas tidas por “pentecostais” adquiriram um Dicionário muito famoso intitulado VINE, instrumento altamente recomendável ao publico lingüista que domina o idioma hebraico e grego.
            É certamente uma poderosa ferramenta de estudo nas mãos de pessoas qualificadas, mas uma bomba atômica nas mãos de pessoas que não possuam as qualificações necessárias para utilização.
            O que tornaria contraditório o pensamento “sinergismo”.

ESCLARECENDO O QUE É NECESSÁRIO
A INFORMAÇÃO DEVE SER CLARA – No primeiro trabalho feito sobre o Monergismo e Sinergismo não procure a bordar de forma etimológica as palavras que trazem nossa reflexão, mas devido ao esclarecimento que pontuo nesta seqüência reflexiva creio ser adequado opinar por este esclarecimento.

SOBRE A PALAVRA SINERGISMO – esta palavra vem do Gr. sunergos = cooperação. Uma doutrina da cooperação entre Deus e os homens. Posto o esclarecimento do termo se algum “monergista” se atrever a negar o sinergismo estará diretamente dando um tiro no pé.

O SENTIDO DO SINERGISMO – O sentido do sinergismo é procurar conciliar duas verdades paradoxais:
(1)   A Soberania de Deus – Que em nenhum momento é negada pelo sinergista.    
(2)   A responsabilidade moral humana – Que biblicamente não pode ser descartada.

            Em nenhum local estas vertentes SOBERANIA x responsabilidade se entrelaçam mais fortemente de que na conversão do pecador, porque mesmo que o calvinismo extremado afirme que o homem nem precise da pregação do evangelho por já estar eleito para salvação, ainda assim, seja necessária a existência do homem para haver concretização da Soberania Divina.
            Portanto, Como conseguiriam explicar isso?
            Lutero em seu catecismo maior escreve:

Creio que não posso, pelo meu próprio raciocínio ou força, crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem chegar a Ele. Mas, o Espírito Santo chamou-me através do evangelho, iluminou-me com Seus dons, e me santificou e me conservou na fé verdadeira

            Erasmo disse:

O livre- arbítrio é o poder de aplicar-se a graça

            Uma pergunta me sobe ao coração referente a graça; Como seria possível aceitar a graça se não houvesse o livre-arbítrio?
            Muitas vezes o monergismo procura esconder as verdades do sinergismo talvez, com medo que sua estrutura caia por terra e apareçam suas falhas grotescas quanto à doutrina da salvação.
            Partamos do sentido primário da palavra “salvação” – se salvação é atribuir a alguém que esteja em perigo, logo não pode ser aplicado a apenas para uma parte da humanidade que esteja em perigo, mas senão toda ela. Se for contrário a isso tornamos Deus injusto, porque procurar salvar apenas uma parte e outra não, utilizando para isso sua Soberania.
            Contradizer um dos atributos Divino a unibenevolência, (em que está inserido seu amor), para com todos surge o texto de Tito. (TT 2.11)
            Outro detalhe que complica os calvinistas (monergistas) é em relação a quantidade de salvos, em nenhum lugar da Bíblia encontramos percentuais para salvação; No pensamento calvinista este percentual supostamente esteja determinado apenas aos eleitos, portanto, por inferência podemos nós sinergistas afirmar que esta salvação está disponível para 100% da humanidade, ainda que o percentual de aceitação seja desconhecido da humanidade cabendo exclusivamente a Deus.
            A isto, chamo de Presciência.   
            Pouca gente sabe, mas durante a reforma feita por Lutero ocorreu uma controvérsia sinergista. Os estudiosos debatem se Philip Melanchthon foi sinergista. É certo que escreveu que “o homem é totalmente incapaz de praticar o bem” e que nas “coisas externas” (questões seculares) há livre arbítrio, mas não nas “coisas internas” (questões espirituais). Na segunda edição da sua obra Loci, (publicada em 1535), Melanchthon escreveu que na conversão: “Três causas operam em conjunto:”
(1) a Palavra,
(2) o Espírito Santo,
(3) e a vontade, (não totalmente inativa),
            Mas resistindo a sua própria fraqueza... Deus atrai, mas atrai aqueles que estão dispostos... E a vontade não é uma estátua, e aquela emoção espiritual não é cunhada sobre ela como se ela fosse uma estátua”.   


Presciência – mito ou realidade
            O calvinismo aponta a presciência Divina como sendo ELEIÇÃO, ainda que esta seja uma doutrina bíblica há de se definir o correto sentido da palavra para entender o contexto em que ela é aplicada.
            Sem entrar no mérito merecido do que venha ser a “eleição” (ato de escolha), vale lembrar que qualquer tipo de eleição está inserido na presciência de Deus, pois ELE antevê até mesmo o que não ira [1]realizar.   
            Escolher, portanto, não pode estar aplicado única e exclusivamente ao principio da salvação, porque a soteriologia é muito mais ampla do que a mente humana pode alcançar. Mesmo o porquê “[2]Quem se atreve pensar ou afirmar que não esteve no poder de Deus impedir a queda do ajo e do homem? Preferiu, todavia, não lhes retirar esse poder, e demonstrar assim de quanto mal era capaz a soberba deles e de quanto bem era capaz a sua graça.”  
            Conquanto conhecer o sentido real da palavra pode trazer luz à má influência fornecida pelos monergistas trazendo sólida reflexão ao cristão no seu propósito de adoração.
            Procuro apresentar o que entendo ser a correta definição para “presciência”.
            Inicialmente deve-se dividir a palavra em duas partes:

Pre

ciência
Pré – Anterioridade referindo-se ao preparo de algo ou do que está antes do início.
            Em sentido teológico prever antecipadamente. (previsão)
Ciência – Do Lat. Scientia refere-se ao conhecimento rigoroso e racional de qualquer assunto.
            Podemos definir que presciência seja de forma objetiva “algo que está antes do inicio dentro do conhecimento racional de qualquer assunto”, portanto, alheio a capacidade humana de antever o futuro, não cabendo ao humano tentar definir o que Deus não nos revelou. Supor que Deus tenha escolhido alguns para salvação e outros para condenação é no mínimo infame e irreal.
            Uma vez apresentado o sentido lato da palavra.
            Como entender a falácia dos calvinistas sobre a dupla predestinação?
            Segundo esta linha de pensamento uns (seres humanos), são melhores que outros até que Deus venha separar os que com ELE ficarão. Até este ponto podemos aceitar como correto o incorreto é tentar fazer-nos aceitar que é Deus quem estabeleceu o erro de uns e o acerto para outros. Contradiz as Escrituras que afirmam que Deus não faz acepção de pessoas, ou seja, tratamento desigual de pessoas, com favoritismo, parcialidade e injustiça. ([3]Dt 16.19; [4]At 10.34)  
           
Predestinação uma realidade deturpada
            Ainda que a presciência de Deus esteja incutida na Bíblia ela é mais forte ao apontar para a “predestinação”, o termo grego “proorizo” diz-nos sentido totalmente diferente do que propõe os monergistas, ela procura dizer que Deus estabelece o ato de limitar ou determinar antecipadamente. (At 4.28; Rm 8.29-30; 1Co 2.7; Ef 1.5,11)
            Quando o sentido está voltado para a religião significa determinação antecipada, assim, a doutrina da predestinação esta atrelada a eleição.
            A única diferença é que para o sinergista a eleição se refere ao ato da escolha, enquanto a predestinação diz respeito à finalidade desta escolha.
            É neste sentido que os calvinistas (monergistas) se perdem em não aplicar corretamente o “ato da escolha” com o sentido correto da “finalidade da escolha”.
Enquanto o “ato da escolha” – sign; o momento em que é feito a escolha. (eternidade) (Ef 1.4)
A “finalidade desta escolha” – sign; dar sentido ao escolhido. (que é a humanidade e não uma parte dela)
            Os monergistas podem até questionar a “finalidade da escolha”, mas cabe lembrar que é na presciência de Deus que o Israel antigo foi unificado como Igreja atual. Portanto a escolha (eleição) de Israel agora se concentra na Igreja. (Ef 2.12-14) Recusar esta verdade é procurar viver atrelado as Leis no AT.   
            Finalizo afirmando que as Escrituras nos ensinam que a predestinação de Deus, diz respeito ao plano de salvação para a humanidade. Deve também ficar esclarecido que Deus não quer salvar pecador, nos tornamos transgressores ao desobedecê-lo em Adão e Eva, portanto, já estamos no pecado. Mas, quer nos salvar das garras do pecado que trava o entendimento do pecador (2Co 4.4).
            Somente assim, conseguiremos entender o envio do FILHO como Salvador.
            Eis ai o motivo pelo qual o anjo veio com a finalidade de estabelecer o nome do FILHO. (Mt 1.21)
            Que Deus os abençoe o vos faça entender estas verdades. 

 Bibliografia
T. G. Tappert. Ed. The Book of Concord.
C. Manschreck Melanchthon – The Quiet Reformed
H.L.J. Heppe. Geschichte der Lutherischen Concordienformel and Concordie e Geschichte des deusthschen Protestantisn in den Jehren 1555-1581
G.F. Schot, The Enchlyclopedia of the Lutheran Church; III, 2313-14.
Enciclopédia Histórica-Teológica da Igreja Cristã - Vida Nova – ELWELL, WALTER A.
Agostinho de A a Z – FERREIRA Franklin – Vida – Pag. 179
Agostinho de A a Z – FERREIRA Franklin – Vida – Pag. 178
A Cidade de Deus, 14.27, p. 1318.
Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa 2ª edição Revista e Ampliada – Nova Fronteira – Pags. 1379-1387.
Dicionário Enciclopédico de Teologia - SCHULER, Arnaldo – Ulbra – Pag.370-371.
Dicionário Bíblico Universal – BUCKLAND, A. R. – Vida – paginas diversas.




[1] Ele tem o poder de prever mesmo o que não faz. – Agostinho de A a Z – FERREIRA Franklin – Vida – Pag. 179
[2] Agostinho de A a Z – FERREIRA Franklin – Vida – Pag. 178.  Citando Agostinho, A Cidade de Deus, 14.27, p. 1318.
[3] Não torcerás o juízo, não farás acepção de pessoas, nem tomarás suborno, porquanto o suborno cega os olhos dos sábios e perverte as palavras dos justos.
[4] E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas;

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