O blog da teologia e filosofia brasileira. Surge com a expectativa de resgatar o pensamento de pessoas sérias que estão aprisionadas nos bancos das Igrejas. As paredes de suas residências são suas testemunhas, pessoas que se encontram no anonimato teológico. Por não concordarem com a situação espúria da Igreja atual. Este blog faz parte da Editora Mundo Teológico.
segunda-feira, 19 de agosto de 2019
sábado, 17 de agosto de 2019
O rei está morto. Vida longa ao rei.
Mais de 40 anos depois de sua morte, milhões ainda reverenciam o Rei do Rock and Roll. Eles tocam sua música, cantam suas canções e mergulham de cabeça em imitações ruins do homem. Millennials nascidos décadas depois que ele morreu (16 de agosto de 1977, aos 42 anos) podem não conhecer “Heartbreak Hotel” ou “Hound Dog”, mas conhecem seu nome. Mesmo depois de todo esse tempo, a cultura ainda o chama pelo seu primeiro nome: Elvis.
Todavia, apesar de todos os seus singles que chegaram ao topo (18, sendo que foram 11 em seguida), todos os seus álbuns de sucesso (14 deles receberam disco de ouro ou platina) e toda sua influência óbvia na música popular, a vida e o legado de Elvis Presley são complexos (principalmente em relação à sua fé cristã, que ele afirmou ter abraçado, mas nem sempre a seguia muito bem).
“Li muitas biografias de pessoas próximas a ele que diziam que Elvis sempre estava em conflito com Deus”, diz Mark Macias, que escreveu The King: The Final Hours, uma peça que especula sobre como teriam sido os últimos momentos de Elvis na Terra. “Ele queria dar seu talento a Deus, mas o mundo era tentador demais para ser resistido.”
O relacionamento de Elvis com Deus começou cedo. Ele e sua família frequentavam a Primeira Igreja Assembleia de Deus ao leste de Tupelo, Mississippi. Ele foi batizado duas vezes quando criança – uma vez em Tupelo e novamente quando adolescente por um pastor pentecostal unicista em Memphis. (Ele ainda foi batizado pela terceira vez, desta vez postumamente, pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.) Segundo todos os relatos, ele era profundamente religioso.
“Eu creio na Bíblia”, disse ele uma vez. “Eu creio que todas as coisas boas vêm de Deus. Eu não acredito que eu cantaria do jeito que eu canto se Deus não quisesse.”
Para Elvis, o cristianismo e a música estavam intimamente entrelaçados desde o começo de sua vida. Sua mãe, Gladys, diz que (em uma história repetida pelo Beliefnet.com), mesmo quando criança, Elvis se mexia no colo durante os cultos, corria para a frente da igreja e assistia ao coral cantar, às vezes imitando os movimentos do coro.
Lisa Marie Presley, filha de Elvis, diz que o gospel era “sem dúvida” seu gênero favorito. “Ele parecia estar em seu momento mais apaixonado e em paz quando cantava gospel”, escreveu ela no encarte do álbum de No One Stands Alone (um álbum das gravações gospel de Elvis lançado no início de agosto de 2018). No documentário de 1972, Elvis on Tour, Elvis diz que, mesmo naquela época (nos últimos estágios de sua carreira) o gospel era uma fonte constante de consolo. “Fazemos dois shows por noite durante cinco semanas [em Las Vegas]”, disse ele. “Muitas vezes nós vamos lá para cima e cantamos até o raiar do dia. Cantamos gospel. Nós crescemos com o gospel. Ele deixa sua mente um pouco mais tranquila. Tranquiliza a minha mente.”
Macias diz que cresceu amando Elvis e que suas músicas gospel faziam parte da trilha sonora de sua infância. “Há uma história famosa sobre Elvis gravando um álbum gospel”, diz Macias. “Quando a gravação terminou, ele estava chorando e todos na sala se comoveram. Elvis depois disse a todos que podia sentir Deus diretamente quando cantava essas músicas cristãs para Ele.”
No entanto, embora o gospel fosse uma parte enorme e duradoura da vida de Elvis, a mensagem do evangelho às vezes se perdia na confusão.
Escrevendo para a The Gospel Music Magazine, Cheryl Thurber descreveu Elvis como “uma pessoa que estava em uma busca espiritual”. E, embora Elvis carregasse a Bíblia consigo para todos os lugares, ele também leu a Autobiografia de um Iogue e O Profeta. Em seu livro Careless Love: The Unamaking of Elvis Presley, Peter Guralnick diz que Elvis passou seus últimos meses de vida em reclusão na maior parte do tempo – sua única companhia era uma série de livros sobre espiritualismo.
De acordo com a Christian Today, Elvis disse certa vez: “Tudo o que eu quero é conhecer a verdade, conhecer e experimentar Deus. Sou uma pessoa que está em uma busca. É isso que eu sou.”
Entretanto, até mesmo as pessoas mais sinceras que se encontram em uma busca espiritual podem se desviar. Fama e fortuna podem ser um prejuízo para a fé. Elvis, que nasceu em uma casa de dois cômodos em Tupelo, teve acesso a inúmeras tentações durante sua grande carreira. Sabemos, infelizmente, onde essas tentações o levaram. Na época em que ele morreu, ele estava muito acima do peso e abusava de uma série de drogas[1].
“Isolamento gera abuso de drogas”, diz o falecido Tom Petty na biografia de duas partes da HBO, Elvis Presley: The Searcher. “Sabemos que precisava ser muito solitário. Há um momento em que você tem sucesso e fica realmente rico, e há o dia em que chega a carta que diz que nada disso te fará feliz. Ele sabia que precisava encontrar alguma coisa, mas acho que desistiu.”
Mas Macias especula que, em suas últimas horas, Elvis retornou à fé – um retorno narrado em sua peça.
“Acho que nas últimas horas de Elvis Presley ele pediu a Deus que o perdoasse”, diz Macias. “Ele sabia que havia cometido erros na vida e se arrependeu de algumas das escolhas que fez. Durante suas últimas horas, sabemos que Elvis foi ao piano e tocou músicas cristãs. Duvido que ele fizesse isso todas as noites. Será que esse ato então nos dá alguma indicação de que Elvis estava clamando por Deus? Eu acredito que sim.”
“A maioria dos artistas é sensível”, continua Macias. “Essa é a maneira como nós criamos. Nós nos aprofundamos em nós mesmos e sentimos. Elvis era um grande artista e cantor porque sabia como penetrar fundo em seu espírito e se conectar com um poder superior. Pessoalmente, acho que ele aprendeu isso na igreja quando era menino e isso nunca o deixou”.
_________________
[1] Nota do tradutor: Em inglês, a palavra drug é ambígua, podendo se referir tanto a drogas tóxicas como a medicamentos.
Texto original: The Complex Christian Legacy of Elvis Presley. Aleteia.
Traduzido e revisado por Jonathan Silveira.
![]() | Paul Asay é crítico de cinema no site Plugged In e tem escrito em diversos websites, jornais e revistas, como Time, The Washington Post e Beliefnet.com. É autor e coautor de vários livros, incluindo Burning Bush 2.0: How Pop Culure Replaced the Prophet. Texto do Blog Tú Porém, todo crédito ao blog. |
terça-feira, 6 de agosto de 2019
JACÓ ARMÍNIO
E A DOUTRINA DA ELEIÇÃO
E A DOUTRINA DA ELEIÇÃO
C. Kleber Maia
A maioria dos teólogos
protestantes, herdeiros da Reforma do século XVI, crê que Deus predestina
indivíduos para a salvação ou para a condenação eterna, mas várias questões são
polêmicas, tais como: Qual a base escolhida por Deus, para a eleição ou
condenação? Qual o papel de Cristo e de cada indivíduo neste processo? O que
esta doutrina revela sobre o caráter de Deus?
O teólogo holandês Jacó
Armínio (1559-1609) rejeitou a dupla predestinação proposta por João Calvino
(1509-1564), que afirma que Deus, por meio de um decreto, elege alguns homens
para a salvação e reprova outros homens, condenando-os à eterna punição no
inferno, sem levar em conta qualquer ato ou condição destes homens[1], e, por isso, foi acusado
de propagar heresias, como o pelagianismo[2] ou o socialismo[3].
Jacó Armínio nasceu em Oudewater,
na Holanda, e latinizou seu nome para Jacobus Arminius; iniciou a sua formação
teológica em Leiden, depois estudou em Genebra, sob a direção de Teodoro Beza,
sucessor de Calvino, transferiu-se para a Universidade da Basileia, e concluiu
seus estudos em Genebra. Em 1588, aos 29 anos de idade, retornou à Holanda e tornou-se
o pastor da principal igreja protestante do país, em Amsterdã, a qual pastoreou
por 15 anos.
Em 1603 Armínio foi nomeado
professor de Teologia na Universidade de Leiden. Ali, ele enfrentou muitas controvérsias
e oposição de outros professores, especialmente Francisco Gomaro, que o acusava
de heresia, forçando-o a apresentar uma defesa de sua posição. Em Leiden, ele
escreveu discursos, disputas públicas e privadas, tratados teológicos e
apologéticos, incluindo a Declaração de Sentimentos, sua principal obra.
Armínio faleceu em 19 de
outubro de 1609. No seu funeral, seu amigo Bertius proferiu a honrosa oração:
“Viveu na Holanda um homem; os que o conheceram não puderam estima-lo
adequadamente; os que não o estimavam, jamais o conheceram adequadamente”.
Jacó Armínio permaneceu
dentro da Igreja reformada da Holanda toda a sua vida, mas sua teologia “segue
uma trajetória diferente da teologia de seus oponentes” (STANGLIN; McCALL,
2016, p. 37). Seu principal biógrafo afirma que ele nunca concordou com o
pensamento de Beza quanto à dupla predestinação (BANGS, 2015, p. 160). Em suas
pregações na Epístola aos Romanos, ele já negava a eleição incondicional e a
graça irresistível (OLSON, 2001, p. 473).
Armínio conceitua a eleição[4] para a salvação como “o
decreto eterno de Deus, pelo qual, de si mesmo, desde a eternidade, Ele decidiu
justificar em Cristo (ou por Cristo) os fiéis, e aceita-los na vida eterna,
para o louvor da sua gloriosa graça” (ARMÍNIO, v3, p. 300).
Porque Deus é o summum bonum, sua volição para com suas
criaturas é benevolente; sua primeira ação para com elas não pode ser a condenação.
Ele fundamenta seu entendimento acerca da salvação no duplo amor de Deus: amor
a Si mesmo (à Sua justiça e retidão) e o amor às suas criaturas. A ideia de
Deus criar pessoas para que pudesse salvar alguns e enviar outros para o
inferno é vista por Armínio como totalmente inconsistente com o caráter e a
natureza de Deus.
Para Armínio, a eleição é
cristocêntrica, pois ela acontece inteiramente “em Cristo”. Ele considera que a
visão calvinista não honra adequadamente a Cristo, e faz da salvação “apenas
uma causa subordinada da salvação que já havia sido preordenada” (ARMÍNIO, v1,
p. 230).
Na “Declaração de
Sentimentos”, ele expõe a sua visão sobre a predestinação, baseando-a não na
lógica dos decretos divinos, como fizeram seus oponentes, mas na pessoa e obra
de Jesus. Na sua ordem dos decretos, o primeiro é aquele no qual o Pai elege
Cristo como “Mediador, Redentor, Salvador, Sacerdote e Rei” (ARMÍNIO, vol. 1,
p. 226). Cristo é a fundação e o foco da eleição, da salvação e do próprio
cristianismo, aquele “em quem o decreto é fundamentado” (ARMÍNIO, v2, p. 100),
e “a causa meritória daquelas bênçãos que foram destinadas aos fiéis por esse
decreto” (ARMÍNIO, v2, p. 92).
Para Armínio, Cristo “é mais
do que um meio para realizar um decreto anterior e não cristológico. Ele é mais
do que o executor do decreto. Ele é o fundamento do decreto, de maneira que
toda a eleição é ‘em Cristo’” (BANGS, 2015, p. 414; ARMÍNIO, v2, p. 92; v3, p.
300). Daniel (2017, p. 430) assevera que a obra de Jesus não é um instrumento
“criado por Deus para formalizar a salvação que Ele já havia determinado dar a
apenas algumas pessoas, as quais Ele já havia escolhido antes da fundação do
mundo”.
Armínio declara que Jesus “é
considerado pré-ordenado, e nós, nele, e Ele, na ordem da natureza e das
causas, antes de nós. Ele foi ordenado salvador, e nós, como aqueles a serem
salvos” (ARMÍNIO, v3, p. 131). Colocar a eleição dos homens em primeiro lugar,
como no calvinismo, é inverter a ordem apresentada nas Escrituras (ARMÍNIO, v3,
p. 310).
Para ele, Deus ama a
humanidade exclusivamente “em Cristo” (ARMÍNIO, v1, p. 230), pois “a justiça de
Deus exige que seja feita a reconciliação pelo sangue de Cristo” (ARMÍNIO, v3,
p. 310). Ele assegura que não poderia haver nenhum lugar para a predestinação,
exceto em Cristo, “visto que Deus não pode amar um pecador para a salvação, a
não ser que o pecador se reconcilie com Ele em Cristo” (ARMÍNIO, v3, p. 287).
Armínio rejeitou a doutrina
calvinista da dupla predestinação, por diversas razões: não é o fundamento do
cristianismo, nem da salvação; não foi admitido por Concílios, nem nas
Confissões, nem pelos doutores da igreja; fere a natureza de Deus e do homem; é
contrária ao ato da criação e à natureza da vida e da condenação eterna; é
incoerente com a natureza do pecado e da graça; faz de Deus o único pecador; é
prejudicial à salvação, inverte a ordem do evangelho e subverte o fundamento da
religião (ARMÍNIO, v1, p. 226-227).
Ele defende, ainda, que a
eleição é condicional. Acerca do decreto da eleição
individual, ele afirma que ele “tem o seu embasamento na presciência de Deus,
pela qual Ele sabe, desde toda a eternidade, que tais indivíduos, por meio de
sua graça preventiva, creriam, e por sua graça subsequente, perseverariam”
(ARMÍNIO, v1, p. 227). A explicação de Armínio da natureza da predestinação “é
completamente teocêntrica” (STANGLIN; McCALL, 2016, p. 43). Deus conhece certamente
aquele que atende à condição que Ele mesmo estabeleceu para a salvação, a fé. A
salvação é ofertada a partir da presciência divina da desobediência humana, e
declara que não encontra na Bíblia “algum decreto, pelo qual Deus tenha
decidido exibir a sua própria glória, na salvação destes e na condenação
daqueles, exceto pela presciência da queda” (ARMÍNIO, v3, p. 64).
Sem este conhecimento divino
não poderia haver eleição condicional. Armínio afirma que “Deus não pode ‘amar
previamente e considerar, afetuosamente, como seu’ a nenhum pecador”, a não ser
que Ele o conheça previamente, em Cristo, e o considere como um crente (ARMÍNIO,
v3, p. 455). A fé prevista é condição indispensável para a eleição: “Ninguém
está em Cristo, exceto pela fé; pois Cristo habita em nossos corações pela fé,
e somos enxertados nele e incorporados nele pela fé. Portanto, Deus não
reconhece como seu e não escolhe para a vida eterna nenhum pecador, a menos que
o considere como um crente em Cristo, e feito um só, com Ele, pela fé” (ARMÍNIO,
v3, p. 303).
A fé necessária para a
salvação deve ser perseverante, pois “se alguém cair da fé, cai dessa união e, em
consequência disso, da benevolência de Deus pela qual foi aceito, previamente,
em Cristo”. (ARMÍNIO, v3, p. 463). Para Armínio, o crente precisa perseverar na
fé para ser, de fato, um eleito (ARMÍNIO, v1, p. 350, 351).
Deus pode requerer fé do ser
humano, pois “decidiu conceder aos homens graça suficiente, pela qual os homens
podem crer” (ARMÍNIO, v1, p. 348). A
graça salvadora objetiva restaurar a natureza caída e habilitar o homem a crer
e buscar a Deus. A fé é a condição da eleição, não a base meritória dela (ARMÍNIO,
v1, p. 507). A eleição, para ele, é eterna (ARMÍNIO, v1, p. 507), pessoal e
individual (ARMÍNIO, v1, p. 227)[5].
Estabelecendo, em sua
teologia, a necessidade primordial da graça divina para que o homem possa crer,
Armínio é inocentado da acusação de sustentar o pelagianismo, colocando a
iniciativa para a salvação exclusivamente em Deus. Para ele, a eleição deve ser
graciosa e evangélica - apresentar uma boa nova de salvação (ARMÍNIO, v2, p.
92). A predestinação não pode ser um decreto de condenação, mas que compartilhe
a boa notícia de que todos podem ser salvos, pela fé em Cristo.
Ele considera que a
reprovação eterna é baseada na presciência divina dos pecados cometidos pelos
homens (ARMÍNIO, v3, p. 343, 344) e que esta reprovação “necessariamente tem
duas coisas que a antecedem: o ódio pela injustiça, e a presciência de que o
indivíduo, por sua própria culpa, será culpado de injustiça, por omissão ou por
comissão” (ARMÍNIO, v3, p. 335).
Conclusões
Armínio entendia que a
predestinação revela o coração de um Deus gracioso, cuja característica
fundamental é o amor. Embora Deus permita que alguns pereçam, sendo reprovados
eternamente, isto ocorre de acordo com a resposta que as pessoas darão à Sua graça.
O ser humano diz “não” ao resistir à graça divina, que o capacita a dizer “sim”.
A eleição, para ele, é
cristocêntrica; Cristo é o Eleito primeiro, como Salvador de todos homens, que
serão eleitos nele, ao crerem, aceitando a oferta da livre graça divina, quando
não resistem ao chamado do Espírito Santo, na apresentação do evangelho.
A eleição de Cristo, como
salvador de todos os homens, como oferta graciosa de Deus a ser recebida em fé
por um coração que já foi predisposto pela graça é o que melhor representa a
natureza do Deus amoroso que enviou Seu Filho para morrer pelos homens, a
natureza do homem (criado à imagem de Deus), do evangelho, como boas novas, do
pecado como rebeldia e da graça como livre, capacitante e universal.
Armínio não defende um
sinergismo igualitário, onde Deus e homem caminham para uma reconciliação para
a qual ambos tomaram a iniciativa, mas um sinergismo[6] onde Deus toma toda a
iniciativa e proporciona todos os meios, requerendo apenas que o homem confie
em seu Salvador.
Ele sustenta os princípios
reformados - Sola Scriptura, Sola Gratia e Sola Fide - salvação pela graça por
intermédio da fé, conforme as Escrituras. Também eleva o valor da cristologia,
e tenta entender todas as demais doutrinas à luz da revelação de Deus em Cristo
Jesus.
A teologia de Armínio e seu
entendimento quanto à Eleição para a Salvação oferece esperança para a igreja, e
para a teologia, ao tornar o evangelho acessível a todos e a certeza da
salvação possível, aos que creem em Cristo.
REFERÊNCIAS
ARMINIO,
Jacó. As Obras de Armínio. 3 volumes. Traduzida por Degmar Ribas. Rio de
Janeiro: CPAD, 2015.
BANGS,
Carl. O. Armínio – um estudo da reforma holandesa. Traduzida por Wellington
Mariano. São Paulo: Reflexão, 2015.
DANIEL,
Silas. Arminianismo, A Mecânica da Salvação: Uma exposição histórica,
doutrinária e exegética sobre a graça de Deus e a responsabilidade humana. Rio
de Janeiro: CPAD, 2017.
OLSON,
Roger E. História da Teologia Cristã – 2000 anos de tradição e reformas. São
Paulo: Vida, 2001.
OLSON,
Roger E. Teologia Arminiana – mitos e realidades. Traduzida por Wellington
Mariano. São Paulo: Reflexão, 2013.
PICIRILLI,
Robert R. Graça, Fé e Livre Arbítrio – visões contrastantes da salvação:
calvinismo e arminianismo. São Paulo: Reflexão, 2017.
SHANK,
Robert. Eleitos no Filho: um estudo sobre a doutrina da eleição. São Paulo:
Reflexão, 2015.
STANGLIN,
Keith D.; MCCALL, Thomas H. Jacó Armínio – teólogo da graça. São Paulo:
Reflexão, 2016.
Carlos
Kleber Maia é pastor da Assembleia de Deus no RN, mestrando em Teologia
(FABAPAR) e Pós-graduado em Teologia do Novo Testamento Aplicada (FTBP). É
responsável pelo canal Graça e Poder (www.youtube.com/c/graçaepoder).
[1]
Timothy George (Teologia dos Reformadores, São Paulo, Vida Nova, 1994, p. 232)
define a predestinação calvinista como: absoluta, já que não está condicionada
a nenhuma contingência finita; particular, pois pertence a indivíduos e não a
grupos; dupla, pois Deus, para Seu louvor, elegeu uns para a vida eterna, e
outros para a perdição eterna.
[2] O
pelagianismo é defendido por Pelágio, um monge britânico do séc. IV; prega que
o homem tem capacidade natural de viver uma vida santa e sem pecado e alcançar
a salvação por sua vontade livre; nega o pecado original, e minimiza a
necessidade da expiação realizada por Cristo e da graça divina para a salvação,
cf. TITILLO, Thiago Velozo, A Gênese da Predestinação na História da Teologia,
Fonte Editorial, 2013.
[3] O
socianismo ou socinianismo está ligado a Fausto Socino (falecido em 1604); não
crê na Trindade e rejeita a doutrina do pecado original, entre outras doutrinas.
[4]
Armínio, como Calvino e outros teólogos, utiliza os termos “predestinação” e
“eleição” como sinônimos, de forma intercambiável. Silas Daniel ressalta a
diferença entre estes dois conceitos teológicos, afirmando que “conquanto sejam
duas coisas intimamente relacionadas, não são uma e a mesma coisa, e
predestinação não envolve condenação eterna” (DANIEL, 2017, p. 423, 424).
[5]
Muitos arminianos posteriores, como H. Orton Wiley, Robert Shank e William
Klein, defenderam uma visão corporativa da eleição. Ver COTTRELL, Jack em PINNOCK,
Clark H.; WAGNER, John D. Graça para Todos: a dinâmica arminiana da salvação,
São Paulo, Reflexão, 2016.
[6]
Sinergismo é a crença teológica na livre participação humana na salvação. Roger
Olson (2013, p. 24) faz distinção entre sinergismo evangélico (arminianismo clássico)
e o sinergismo herético (pelagianismo). Leroy Forlines (Classical Arminianism,
2011, p. 264, 267) usa a terminologia “monergismo condicional”. Mathew Pinson
afirma que a visão de Armínio não representa “uma forma de sinergismo no qual a
obra de Deus e a obra do homem cooperam, mas sim uma relação na qual a vontade
e a obra de Deus dentro do homem [são] bem-vindas numa atitude de confiança e
submissão” (PICIRILLI, 2017, p. 195).
sexta-feira, 2 de agosto de 2019
Como um pentecostal pode se tornar um neocalvinista.
Pastor César Moisés Carvalho
Pastor César Moisés Carvalho
Endosso Pastor Themmy Lima - 02/08/19
Quer saber como um pentecostal, sem perceber, pode se tornar um neocalvinista e, posteriormente, um cessacionista, deixando de crer em:
1) batismo no Espírito Santo com a evidência inicial de falar em línguas estranhas,
2) na atualidade dos dons e
3) nos milagres?
1) O pentecostal, geralmente jovem, com razão, se decepciona com a manipulação inescrupulosa de alguns pregadores. Já no Ensino Médio ou até na universidade, ávido por conhecimento, ele não se satisfaz ouvindo o dirigente de sua congregação e então busca conhecimento teológico;
2) Cansados de pregações desprovidas não apenas de fundamentação bíblica, mas até de bom senso, sendo muitos deles aspirantes ao ministério, esses jovens passam a ouvir expoentes reformados e se encantam com o sermão expositivo e também tornam-se leitores das obras neocalvinistas;
3) Uma vez que a produção textual pentecostal, em língua portuguesa, é de natureza mais devocional e, quando teológica, centrada majoritariamente na escatologia, a pneumatologia desses jovens passa a ser moldada pela perspectiva reformada que, como todos sabem, é cessacionista;
4) Uma vez admiradores dos expoentes reformados, esses jovens avessos à manipulação que alguns fazem em nome do Pentecostalismo, são convencidos de que não há experiências genuínas e que elas não podem ser verdadeiras e nem atuais, pois não têm respaldo bíblico. Ainda que a Palavra de Deus ateste claramente a experiência e atualidade dos dons, eles já estão decepcionados e “seguros” de que não há fundamento bíblico para a fé pentecostal. Pois, a despeito de os expositores reformados reconhecerem que existem pastores sinceros no Movimento Pentecostal, eles não utilizam “métodos científicos” de interpretação da Bíblia. Como o Pentecostalismo é uma expressão da fé cristã que utiliza mais a oralidade, os teólogos pentecostais, mesmo os sinceros, são vistos como inaptos pelos jovens que já foram convencidos de que "teólogo pentecostal não sabe interpretar a Bíblia";
5) Percebendo a frequência cada vez maior da evasão dos jovens para as igrejas e/ou eventos reformados, e também decepcionados com alguns manipuladores em nosso meio, muitos líderes adotam uma postura perigosa: Passam a convidar expoentes reformados para falar para os jovens em suas igrejas, sem saber que agindo assim estão “legitimando” o preconceito espalhado pelos teólogos neocalvinistas acerca do Pentecostalismo;
6) Aliado a este fato, temos pregadores pentecostais que, no afã de não serem confundidos com os manipuladores, passam a combater a decadência e o desvio feitos em nome do Pentecostalismo, com críticas, provenientes da leitura de autores cessacionistas, reforçando o discurso de que os expoentes reformados estão certos em seus argumentos acerca do fato de o Pentecostalismo não ser uma expressão legítima da fé;
7) Eles não percebem que, agindo dessa forma, inconscientemente estão aceitando o fato de que a teologia reformada está sendo instaurada como a norma — ou padrão — para averiguar o que é, ou não, correto, ortodoxo e bíblico. Sendo a referida teologia calcada em um período da história — século 17 — em que tudo tinha de ser provado matemática e racionalisticamente (inclusive na época que o deísmo era a posição de muitos cientistas cristãos, como Isaac Newton, por exemplo), ela não contempla a possibilidade da intervenção divina e nem a atualidade dos dons e dos milagres. É importante notar que não se trata das doutrinas mestras do Cristianismo, posto que estas não são propriedades de nenhuma expressão particular da fé ou de qualquer denominação, mas pertencem à religião cristã e, por isso mesmo, definem quem de fato pode ou não ser classificado como cristão;
8) As editoras de linha tradicional que já contavam com um amplo catálogo, acabam também "ajudadas" por outras, não reformadas que, ao avaliar uma obra e perceber que ela não trata da soteriologia, publicam livros dos autores cessacionistas, tornando-os mais "populares" entre pentecostais. Isso se dá pelo fato de que os próprios editores, sem perceber, foram convencidos de que apenas expoentes reformados escrevem e produzem teologia. “Pentecostal não escreve, mas apenas prega”, é o que se espalhou. No entanto, ainda que infinitamente menor, a produção textual dos teólogos pentecostais, no mundo, é abundante e segue uma tendência diferente da teologia reformada (algo que lamentavelmente demorou para se perceber aqui no Brasil);
9) Grandes eventos, que se iniciaram com um propósito — defender a fé cristã — e eram dirigidos por pentecostais, tornaram-se majoritariamente capitaneados por expoentes reformados. Estes, que sempre foram acostumados a falar para poucas dezenas de pessoas em suas igrejas, agora, com muita retórica e habilidade, recebem todos os anos um público leigo com milhares de pessoas, formado esmagadoramente por pentecostais, que sai convencido de que realmente tudo — no “mundo evangélico”, leia-se, Pentecostal — não passa de banalização e que cristianismo genuíno é neocalvinista/cessacionista, ou seja, a fé cristã de onde esses expoentes são originários. Como eles fazem isso? Tomando o todo pela parte, ou seja, dando os piores exemplos que acontecem por aí em nome do Pentecostalismo. Uma vez que ninguém em sã consciência concorda com tal decadência, coloca-se tudo no mesmo pacote e então joga-se o que é genuíno juntamente com o que nunca foi, não é, e nunca será, Pentecostalismo;
10) Finalmente, um dado que merece muita ATENÇÃO:
Pentecostais que sucumbiram ao cessacionismo, não apenas através da literatura reformada, mas também foram estudar em instituições reformadas, tornando-se declarada, ou disfarçadamente (esses são em número infinitamente maior em nossas igrejas) neocalvinistas, achando-se agora racionais, juntam-se aos expoentes que debocham de nossa fé Pentecostal e simples e estão dentro de nossas igrejas fazendo discursos proselitistas sob a desculpa de que precisamos corrigir os excessos, as manipulações, a banalização do sagrado e sermos maduros, tornando o Pentecostalismo esvaziado de suas características, ou seja, visando-se a despentecostalização do Movimento. Assim, têm-se não apenas a ameaça de fora, mas a militância de dentro, pressionando a igreja para que ela sucumba ao cessacionismo.
Bom
Cesar Moisés
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